sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Facebook Revela Não Apenas o Rosto, Mas o Corpo Todo

O grande mérito do filme A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010, dirigido por David Fincher, com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Tiberlake, Joseph Mazzello) é o fato de que não há preocupações de posicionar o Facebook como um "paradigma político-social", nem mesmo como uma "superação cultural". De fato, a coisa toda é fabulosa do ponto de vista tecnológico e de negócios. E pára aí. Todavia, quando nos transportamos para além do filme, vemos que não apenas a face do website é revelada. O corpo inteiro acaba desnudado... 
Basta verificarmos o que está a ocorrer em relação ao WikiLeaks para percebermos que o Facebook não tem nenhum significado que ultrapasse de forma significativa os limites de sua própria utilidade. O WikiLeaks é um paradigma político, social e cultural. Dele decorre a exposição das vísceras do poder, da bestialidade das grandes potências, da leviandade da diplomacia e por aí vai. Interessante que o idealizador do WikiLeaks utilizou-se da mídia tradicional (jornais, TVs, etc.) para projetar para o mundo como este de fato funciona nas mãos dos poderosos. Isto evidencia a junção momentânea entre o novo e o velho. Tal qual a burguesia e a nobreza nos tempos da Revolução Francesa. 
Mark Zuckenberg, o fundador do Facebbok,  é o genial partícipe do mundo dos negócios por meio de sua capacidade de ver a "utilidade" de um sistema que coletou a adesão de 500 milhões de pessoas. Além disso, soube fazer as maldades certas nos momentos certos. E dane-se qualquer escrúpulo. Certamente o WikiLeaks não conseguiria tanto, pois afinal, quem realmente se importa com o funcionamento das estruturas de poder? As pessoas trocam visões sobre o Poder pelo relacionamento virtual, incluindo o sexo e a vulgaridade. Até aí não há novidades: a política do panis et circenses é a marca registrada da manutenção da paz social ao longo dos tempos. Se antes eram os gladiadores e os cristãos engolidos pelos leões agora temos o Facebook e as suas feições pantagruélicas. Bem, muitos pensam diferente. (Não estou a me referir a "utilidade" que tem o website. Estou a refletir sobre os valores sociais que são atribuídos, inclusive por parte da intelligentsia,  à rede social). 
O filme é banal na minha visão. Não há nele nada que possa ser tão meritório para que já tenha arrecadado tantos prêmios e, obviamente, uma bela bilheteria que garante a Zuckenberg  um perfil de mito moderno. A direção é competente, mas não é brilhante. O elenco é razoável e sabe fazer os trejeitos dos esterótipos propostos pelo autor do livro no qual se baseia o filme Bem Mezrich. É daqueles filmes que divide a avaliação do público como se este torcida fosse: os que adotam e "amam" o facebook acham o filme espetacular. Os outros acham que não há nada demais nele... Bem, vale a pena testar de que lado você fica.





segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Woody Allen Tenta Enganar. Mas, Não Consegue.

Há aqueles que julgam o cineasta Woody Allen um gênio do cinema. Nunca me incluí dentre estes. De fato, a sua filmografia inclui filmes muito bons, tais quais, Bananas (1971), Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar (1972), Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), Interiores (1978), Zelig (1983), A era do rádio (1987) e Vicky Cristina Barcelona (2008).
Se olharmos o conjunto de sua obra, concluiremos que em grande parte dela Allen se ocupa em trazer para a tela o cotidiano e refleti-lo de forma às vezes dramática e às vezes cômica dentro de uma moldura padrão. Ele, no geral, abusa da própria forma de ver o cinema, dando-lhe um ar próprio, mas por vezes chato e óbvio, para não dizer cansativo. Parece ter um conjunto de falas programado no seu computador e, de repente, o saca conforme a necessidade de cada cena de seus filmes. Neste sentido, ele parece como os improvisadores  da commedia dell´arte do século XVI com as suas pantomimas. Na maioria de seus filmes, o enredo corre como uma improvisação no qual os autores seguem uma série de falas pré-programadas que podem ser utilizadas em variados espaços e tempos.
No que diz respeito à temática, Woody Allen apela sempre para a crítica deslavada dos valores sociais. Em seu lugar nada coloca. Deixa aquele vazio que todo mundo sabe que existe, que as vezes sentimos e por vezes conversamos a respeito. Quer ser Freud, mas acaba mesmo sendo Groucho Marx. Pouco existe em seus filmes de seus cineastas prediletos: Ingmar Bergman, Felini, De Sicca ou Godard ou Truffaut. Há um monte de gente que vê todos estes gênios (estes sim!) por detrás de Allen. Para mim não passa de ilusão de óptica para dizer o mínimo.  
No seu último filme,  Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (2010, EUA, You Will Meet a Tall Dark Stranger, com Antonio Banderas, Josh Brolin, Freida Pinto, Naomi Watts e Gemma Jones,), Woody Allen não apenas abusou da velha fórmula como passa a sensação de tentar enganar a todos de uma só vez. O filme é pretensioso (a começar pela citação inicial de Shakespeare), tem uma história ridícula que não deveria inspirar o menor cuidado dramático, não tem ritmo, é mal repartido no que se refere ao correr das cenas e o velho jogo rápido da câmera acaba por jogar o seu velho recurso de imagem no lixo. O pior de tudo é ver o magnífico elenco tentando salvar cada cena. Fico imaginando se Allen os orientou em relação à execução do roteiro. Não deveria, pois não há o que salvar nos diálogos. Até as suas velhas piadas, conseguiram ficar mais velhas a despeito de arrancar algumas risadas do fundo da platéia. (Há quem se divirta sempre).
O melhor a fazer neste filme é ir embora antes, com a sensação de que o dinheiro do ingresso deveria ser reposto de forma instantânea.