Convenhamos, Natalie Portman tem lá suas virtudes como atriz, mas o que se sobressai é a sua imagem de mulher bonita com pitadas fortes de sedução. Tudo isso com o aporte sólido da mídia. Suas participações na trilogia de Guerra nas Estrelas (Guerra nas Estrelas: Ameaça Fantasma (1999), Guerra nas Estrelas: Ataque dos Clones (2002) e Guerra nas Estrelas: A Vingança dos Sith (2005)) são razoáveis. Em Closer (2005) consegue somar as habilidades de mediana dançarina com uma interpretação convicente e competente de uma stripper. No filme A Outra (2008) consegue impedir que Scarlett Joahansson ocupe todos os espaços disponíveis no filme por meio de uma rinha de beleza física e interpretações artísticas que carecem de alma.
Apesar de sua carreira de sucesso ter sido relativamente iluminada, quando analiso as suas interpretações e as cotejo com o seu sucesso midiático fico com a nítida impressão de que a essência de sua interpretação é maximizada além do real mérito que mereceria. Este não é fenômeno raro no cinema, em especial no norte-americano. Veja o caso de Gwyneth Paltrow e Amy Adams, cujos desempenhos sob as luzes do set são apenas razoáveis, mas a reputação publicada vai muito além.
No caso de Portman, temos agora o Oscar de melhor atriz pelo Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010, dirigido por Darren Aronofsky, com Vincent Cassel, Barbara Hershey e Wynona Ryder). O desempenho da atriz é razoável, embora esteja como sempre mascarado pela formalidade do papel a ela destinado e sem nenhuma invenção própria que mereça maiores observações. Portman não coloca e nem tira a máscara de atriz sem pedir licença ao diretor (e quem sabe aos produtores). Não é à toa que o seu papel de primeira dama do balé homônimo ao filme é tolhido pelo desastre do roteiro somado a uma direção cheia de virtuosismos com a câmara e que sequer consegue fazer o básico, atrair a distinta audiência.
A platéia, depois dos penosos primeiros trinta minutos de filme, deve ficar imaginando como é que aquele filme pode elevar Natalie Portman à condição de primeira dama do cinema em 2010. É interessante que o tempo inteiro, fica-se na expectativa de que algo merecedor de atenção vá acontecer na próxima cena. A desatenção apenas não prevalece pela chance generosa que a audiência dá para que "algo" ocorra logo adiante. Haja sofrimento. Neste contexto, Portman sempre aparece conduzida num andor, como se rainha fosse, mas não passa de uma boa performer na dança e um narizinho bonitinho na tela que se contorce conforme seja a necessidade. O resto é tortura.
É triste ver Vincent Cassel, com um inglês bem afinado, perdurar em diálogos sofríveis, sem luz e sem levar a lugar algum. Nem a pretendida pulsão erótica de certo diálogos consegue ludibriar os atores e, muito menos, aqueles que assitem o filme.
O lobby de Natalie Portman para ganhar os prêmios que levou (BAFTA, Oscar e Golden Globe) deve ter sido realmente enorme. Tal qual o lucro do filme, cujo faturamento já alcançou US$ 229 milhões para um custo estimado ao redor de US$ 13 milhões.
Bom, tudo no mundo de hoje é percepção, nada relacionado com a legitimação oriunda do intelecto ou mesmo da "arte". É possível que o que escrevo acima esteja em completa dissonância com as percepções que prevalecem na mídia e que vem dos críticos que colocam Natalie Portman no trono. Fica a minha opinião livre: se o amor ao cinema dependesse de Black Swan e Natalie Portman, Hitchcock teria de fazer um de seus clássicos suspenses para sabermos quem cometeu o crime passional e matou o cinema.
quarta-feira, 9 de março de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
Alegria: Bertolucci Está de Volta
Eis aí uma excelente notícia: depois de quase oito anos sem filmar - seu último filme foi Os Sonhadores - Bernardo Bertolucci vai voltar ao seu "caso de amor" com o cinema. Será um filme sobre um menino adolescente que vive recluso em um porão na Cidade Eterna. O filme será adaptado do livro I"o e Te" do também italiano Niccolò Ammaniti. Este jovem escritor, de 45 anos, já teve uma novela de sua autoria adaptada para o cinema (com o nome italiano de "Io non ho paura") sob a direção do cineasta Gabriele Salvatores, aquele que filmou a comédia Mediterrâneo sobre a invasão italiana à Grécia durante a segunda guerra mundial.
Voltemos a Bertolucci. Aos 70 anos de idade, o cineasta italiano diz que "não está mais disposto a filmar grandes produções". Deseja tratar os seus filmes de "forma mais intimista", sem se ligar às parnafernálias tecnológicas do cinema contemporâneo. Não despreza a modernidade, apenas a coloca no exato lugar que merece. Aparentemente, Bernardo Bertolucci volta ao seu início. Passou a ser conhecido internacionalmente em 1970 por meio de um filme espetacular O Conformista sobre o qual comento ao final deste texto. Em O Último Tango em Paris (1972) extraiu muito intimismo muito embora tenha sido um filme incompreendido de muitas formas. Até mesmo por Marlon Brando que não gostava do filme e passou a acreditar que Bertolucci o tinha atraído para uma espécie de cilada. Do Tango, Bertolucci passou para uma grande produção "1900" Novecento (1976) no qual conta dentro de uma forma épica a relação entre um bastardo camponês (Olmo) e o filho de um fazendeiro (Alfredo, interpretado por Robert de Niro). Bertolucci narra com enorme talento o contexto histórico de uma Itália agrária ao longo dos primeiros cinquenta anos do século XX. Uma produção e tanto, algo em torno de quatro horas de duração. O filme fracassou nos EUA, fundamentalmente em função de sua temática excessivamente européia e o seu formato nada consoante com o cinema americano daqueles anos 70.
O Último Imperador (1987) consolidou a carreira internacional de Bertolucci. O reconhecimento veio por meio de dois Oscars (melhor direção e roteiro adaptado) e pela conquista definitiva das bilheterias e da crítica. Temos ainda o razoável O Céu que nos Protege (1990) onde o grande encontro de Bertolucci foi, a meu ver, com a magnífica fotografia, muito embora a interpretação de Debra Winger e John Malkovitch seja louvável - souberam tratar a idiotice burguesa do pós-guerra com precisão dramática, fluidez na interpretação e dramaticidade (para um roteiro meio fraco).
Por fim, eu gostaria de lembrar o primeiro grande sucesso internacional que citei logo acima. Trata-se de O Conformista recentemente restaurado e remasterizado. Trata-se de uma adaptação do livro de Alberto Morávia que narra a estória de um transtornado cujo objetivo é ser um sujeito absolutamente assemelhado à sociedade. Quer ser normal, um transeunte pelo mundo que passa despercebido. O extraordinário deste filme é que o personagem estrelado pelo brilhante ator francês Jean-Louis Trintignant é que há uma projeção do pessoal para o político muito bem encaminhado por Bertolucci. O filme se passa nos anos 30, na Itália fascista, onde a batuta do Estado de Mussolini prevalecia. O indivíduo que mergulha no conformismo é igual ao silêncio social relativo ao regime ditatorial. De certa forma, o filme dirigido por Marco Bellocchio, Vincere (2009), comentado anteriormente neste Paidéia, que trata da trágica relação entre Mussolini e sua amante Ida Dalser, é tematicamente um "descendente" do filme de Bernardo Bertolucci. Vale a pena ver. Nele, já podemos registrar a maestria do amante do cinema, este italiano que promete voltar a filmar. Bertolucci é o cineasta do encontro do político com a arte, da angústia com o amor, da burguesia com a vulgaridade, do cinema com a humanidade. Suas imagens não resvalam para nenhuma construção que não seja o próprio íntimo do homem, o mesmo íntimo do espectador que assiste aos seus filmes.
Volta Bernardo!!!
Voltemos a Bertolucci. Aos 70 anos de idade, o cineasta italiano diz que "não está mais disposto a filmar grandes produções". Deseja tratar os seus filmes de "forma mais intimista", sem se ligar às parnafernálias tecnológicas do cinema contemporâneo. Não despreza a modernidade, apenas a coloca no exato lugar que merece. Aparentemente, Bernardo Bertolucci volta ao seu início. Passou a ser conhecido internacionalmente em 1970 por meio de um filme espetacular O Conformista sobre o qual comento ao final deste texto. Em O Último Tango em Paris (1972) extraiu muito intimismo muito embora tenha sido um filme incompreendido de muitas formas. Até mesmo por Marlon Brando que não gostava do filme e passou a acreditar que Bertolucci o tinha atraído para uma espécie de cilada. Do Tango, Bertolucci passou para uma grande produção "1900" Novecento (1976) no qual conta dentro de uma forma épica a relação entre um bastardo camponês (Olmo) e o filho de um fazendeiro (Alfredo, interpretado por Robert de Niro). Bertolucci narra com enorme talento o contexto histórico de uma Itália agrária ao longo dos primeiros cinquenta anos do século XX. Uma produção e tanto, algo em torno de quatro horas de duração. O filme fracassou nos EUA, fundamentalmente em função de sua temática excessivamente européia e o seu formato nada consoante com o cinema americano daqueles anos 70.
O Último Imperador (1987) consolidou a carreira internacional de Bertolucci. O reconhecimento veio por meio de dois Oscars (melhor direção e roteiro adaptado) e pela conquista definitiva das bilheterias e da crítica. Temos ainda o razoável O Céu que nos Protege (1990) onde o grande encontro de Bertolucci foi, a meu ver, com a magnífica fotografia, muito embora a interpretação de Debra Winger e John Malkovitch seja louvável - souberam tratar a idiotice burguesa do pós-guerra com precisão dramática, fluidez na interpretação e dramaticidade (para um roteiro meio fraco).
Por fim, eu gostaria de lembrar o primeiro grande sucesso internacional que citei logo acima. Trata-se de O Conformista recentemente restaurado e remasterizado. Trata-se de uma adaptação do livro de Alberto Morávia que narra a estória de um transtornado cujo objetivo é ser um sujeito absolutamente assemelhado à sociedade. Quer ser normal, um transeunte pelo mundo que passa despercebido. O extraordinário deste filme é que o personagem estrelado pelo brilhante ator francês Jean-Louis Trintignant é que há uma projeção do pessoal para o político muito bem encaminhado por Bertolucci. O filme se passa nos anos 30, na Itália fascista, onde a batuta do Estado de Mussolini prevalecia. O indivíduo que mergulha no conformismo é igual ao silêncio social relativo ao regime ditatorial. De certa forma, o filme dirigido por Marco Bellocchio, Vincere (2009), comentado anteriormente neste Paidéia, que trata da trágica relação entre Mussolini e sua amante Ida Dalser, é tematicamente um "descendente" do filme de Bernardo Bertolucci. Vale a pena ver. Nele, já podemos registrar a maestria do amante do cinema, este italiano que promete voltar a filmar. Bertolucci é o cineasta do encontro do político com a arte, da angústia com o amor, da burguesia com a vulgaridade, do cinema com a humanidade. Suas imagens não resvalam para nenhuma construção que não seja o próprio íntimo do homem, o mesmo íntimo do espectador que assiste aos seus filmes.
Volta Bernardo!!!
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