Eis aí uma excelente notícia: depois de quase oito anos sem filmar - seu último filme foi Os Sonhadores - Bernardo Bertolucci vai voltar ao seu "caso de amor" com o cinema. Será um filme sobre um menino adolescente que vive recluso em um porão na Cidade Eterna. O filme será adaptado do livro I"o e Te" do também italiano Niccolò Ammaniti. Este jovem escritor, de 45 anos, já teve uma novela de sua autoria adaptada para o cinema (com o nome italiano de "Io non ho paura") sob a direção do cineasta Gabriele Salvatores, aquele que filmou a comédia Mediterrâneo sobre a invasão italiana à Grécia durante a segunda guerra mundial.
Voltemos a Bertolucci. Aos 70 anos de idade, o cineasta italiano diz que "não está mais disposto a filmar grandes produções". Deseja tratar os seus filmes de "forma mais intimista", sem se ligar às parnafernálias tecnológicas do cinema contemporâneo. Não despreza a modernidade, apenas a coloca no exato lugar que merece. Aparentemente, Bernardo Bertolucci volta ao seu início. Passou a ser conhecido internacionalmente em 1970 por meio de um filme espetacular O Conformista sobre o qual comento ao final deste texto. Em O Último Tango em Paris (1972) extraiu muito intimismo muito embora tenha sido um filme incompreendido de muitas formas. Até mesmo por Marlon Brando que não gostava do filme e passou a acreditar que Bertolucci o tinha atraído para uma espécie de cilada. Do Tango, Bertolucci passou para uma grande produção "1900" Novecento (1976) no qual conta dentro de uma forma épica a relação entre um bastardo camponês (Olmo) e o filho de um fazendeiro (Alfredo, interpretado por Robert de Niro). Bertolucci narra com enorme talento o contexto histórico de uma Itália agrária ao longo dos primeiros cinquenta anos do século XX. Uma produção e tanto, algo em torno de quatro horas de duração. O filme fracassou nos EUA, fundamentalmente em função de sua temática excessivamente européia e o seu formato nada consoante com o cinema americano daqueles anos 70.
O Último Imperador (1987) consolidou a carreira internacional de Bertolucci. O reconhecimento veio por meio de dois Oscars (melhor direção e roteiro adaptado) e pela conquista definitiva das bilheterias e da crítica. Temos ainda o razoável O Céu que nos Protege (1990) onde o grande encontro de Bertolucci foi, a meu ver, com a magnífica fotografia, muito embora a interpretação de Debra Winger e John Malkovitch seja louvável - souberam tratar a idiotice burguesa do pós-guerra com precisão dramática, fluidez na interpretação e dramaticidade (para um roteiro meio fraco).
Por fim, eu gostaria de lembrar o primeiro grande sucesso internacional que citei logo acima. Trata-se de O Conformista recentemente restaurado e remasterizado. Trata-se de uma adaptação do livro de Alberto Morávia que narra a estória de um transtornado cujo objetivo é ser um sujeito absolutamente assemelhado à sociedade. Quer ser normal, um transeunte pelo mundo que passa despercebido. O extraordinário deste filme é que o personagem estrelado pelo brilhante ator francês Jean-Louis Trintignant é que há uma projeção do pessoal para o político muito bem encaminhado por Bertolucci. O filme se passa nos anos 30, na Itália fascista, onde a batuta do Estado de Mussolini prevalecia. O indivíduo que mergulha no conformismo é igual ao silêncio social relativo ao regime ditatorial. De certa forma, o filme dirigido por Marco Bellocchio, Vincere (2009), comentado anteriormente neste Paidéia, que trata da trágica relação entre Mussolini e sua amante Ida Dalser, é tematicamente um "descendente" do filme de Bernardo Bertolucci. Vale a pena ver. Nele, já podemos registrar a maestria do amante do cinema, este italiano que promete voltar a filmar. Bertolucci é o cineasta do encontro do político com a arte, da angústia com o amor, da burguesia com a vulgaridade, do cinema com a humanidade. Suas imagens não resvalam para nenhuma construção que não seja o próprio íntimo do homem, o mesmo íntimo do espectador que assiste aos seus filmes.
Volta Bernardo!!!
quinta-feira, 3 de março de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário