quarta-feira, 9 de março de 2011

O Cisne não é Negro. É Feio Mesmo.

Convenhamos, Natalie Portman tem lá suas virtudes como atriz, mas o que se sobressai é a sua imagem de mulher bonita com pitadas fortes de sedução. Tudo isso com o aporte sólido da mídia. Suas participações na trilogia de Guerra nas Estrelas (Guerra nas Estrelas: Ameaça Fantasma (1999), Guerra nas Estrelas: Ataque dos Clones (2002) e Guerra nas Estrelas: A Vingança dos Sith (2005)) são razoáveis. Em Closer (2005) consegue somar as habilidades de mediana dançarina com uma interpretação convicente e competente de uma stripper. No filme A Outra (2008) consegue impedir que Scarlett Joahansson ocupe todos os espaços disponíveis no filme por meio de uma rinha de beleza física e interpretações artísticas que carecem de alma.
Apesar de sua carreira de sucesso ter sido relativamente iluminada, quando analiso as suas interpretações e as cotejo com o seu sucesso midiático fico com a nítida impressão de que a essência de sua interpretação é maximizada além do real mérito que mereceria. Este não é fenômeno raro no cinema, em especial no norte-americano. Veja o caso de Gwyneth Paltrow e Amy Adams, cujos desempenhos sob as luzes do set são apenas razoáveis, mas a reputação publicada vai muito além.
No caso de Portman, temos agora o Oscar de melhor atriz pelo Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010, dirigido por Darren Aronofsky, com Vincent Cassel, Barbara Hershey e Wynona Ryder). O desempenho da atriz é razoável, embora esteja como sempre mascarado pela formalidade do papel a ela destinado e sem nenhuma invenção própria que mereça maiores observações. Portman não coloca e nem tira a máscara de atriz sem pedir licença ao diretor (e quem sabe aos produtores). Não é à toa que o seu papel de primeira dama do balé homônimo ao filme é tolhido pelo desastre do roteiro somado a uma direção cheia de virtuosismos com a câmara e que sequer consegue fazer o básico, atrair a distinta audiência.
A platéia, depois dos penosos primeiros trinta minutos de filme, deve ficar imaginando como é que aquele filme pode elevar Natalie Portman à condição de primeira dama do cinema em 2010. É interessante que o tempo inteiro, fica-se na expectativa de que algo merecedor de atenção vá acontecer na próxima cena. A desatenção apenas não prevalece pela chance generosa que a audiência dá para que "algo" ocorra logo adiante. Haja sofrimento. Neste contexto, Portman sempre aparece conduzida num andor, como se rainha fosse, mas não passa de uma boa performer na dança e um narizinho bonitinho na tela que se contorce conforme seja a necessidade. O resto é tortura.
É triste ver Vincent Cassel, com um inglês bem afinado, perdurar em diálogos sofríveis, sem luz e sem levar a lugar algum. Nem a pretendida pulsão erótica de certo diálogos consegue ludibriar os atores e, muito menos, aqueles que assitem o filme.
O lobby de Natalie Portman para ganhar os prêmios que levou (BAFTA, Oscar e Golden Globe) deve ter sido realmente enorme. Tal qual o lucro do filme, cujo faturamento já alcançou US$ 229 milhões para um custo estimado ao redor de US$ 13 milhões.
Bom, tudo no mundo de hoje é percepção, nada relacionado com a legitimação oriunda do intelecto ou mesmo da "arte". É possível que o que escrevo acima esteja em completa dissonância com as percepções que prevalecem na mídia e que vem dos críticos que colocam Natalie Portman no trono. Fica a minha opinião livre: se o amor ao cinema dependesse de Black Swan e Natalie Portman, Hitchcock teria de fazer um de seus clássicos suspenses para sabermos quem cometeu o crime passional e matou o cinema.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aprecio sua coragem em expressar sua opinião sobre o filme.
Quando assisti Cisne Negro, a exemplo da grande maioria dos espectadores, o impacto foi forte, mas durou segundo e o filme caiu no esquecimento. Diferente do filme dinamarquês “Por um mundo melhor”.
Marília