Neste sentido, recomendo aos amigos algumas leituras que me parecem interessantes e que reflorem a nossa mente num jogo solto de ironia, alegria, amor, juízos de valor, compaixão, reflexão e outras tantas cousas.
Para os que gostam de poesia, recomendo Primeira Poesia da coleção Biblioteca Borges da Companhia das Letras, bem como Outras Inquisições da mesma coleção. Nos poemas podemos encontrar toda a elegância de Jorge Luis Borges sem as modernas travessuras dos poetas ditos vanguardistas. O traço de Borges, em estilo inconfundível, conta-nos poeticamente a tão amada Buenos Aires, seja a do passado, seja aquela que permanece intocada pelo tempo. Em sua linguagem, Borges sabe passar da idealização mais mítica até uma pletora de fatos, dados e coleções bem factuais. Nesse alinhavado de poemas podemos nos deliciar ao sabor das letras como se estivéssemos a sorver um delicioso vinho em algum lugar de Palermo Viejo. Uma delícia.
Nos textos de Outras Inquisições encontramos, ao mesmo tempo, um rigor de ideias a cada pequeno ensaio e, de outro lado, um vagar de reflexões despojadas de pretensões acadêmicas. Assim, podemos conhecer o que seria o "pensamento" de Borges sobre diversos temas. De Nathaniel Hawtthorne até Kafka, de Goethe a Schopenhauer. Logicamente, o livro não se caracteriza pela fluidez singela de um texto de Lya Luft, mas não é um texto denso de Petrarca. O livro no fundo nos rivaliza conosco: deveríamos saber mais para sermos mais felizes. Borges é um dos caminhos rumo a esta sabedoria e felicidade.
Outro livro sensacional que merece leitura é Paris: A Festa Continuou de Alan Riding (Companhia das Letras). Trata-se de uma inquietante investigação sobre o papel desempenhado pelos intelectuais, artistas e "formadores de opinião" franceses (ou que lá moravam) durante o período da ocupação da Alemanha nazista. É incrível descobrirmos como o vazio político pode levar os "legisladores" do pensamento a um caminho tão equivocado quanto o suporte ao regime nazista e ao governo colaboracionista do Marechal Philippe Petáin em Vichy. Esta é uma história que sempre ficou acobertada pelo orgulho (e vergonha?) dos franceses. Ademais, é possível transpor muitas daquelas realidades para os limites atuais da Europa em crise. O desemprego, a desesperança, a ausência de perspectivas podem levar sociedades inteiras na direção de soluções que aumentem as imperfeições das estruturas e conjunturas e, até mesmo, nos levem para abismos como foi o regime de Hitler. Riding (que viveu no Brasil) fez uma pesquisa volumosa que foi destrinchada alocando informações e análise de forma lógica e com uma linguagem elegante e simples. Bela leitura.
Ler é um ato egoísta e saboroso. Um prazer que podemos nos dar e que nos leva a melhor das solidões. Aquela que nos liga ao mundo sem que necessitemos dele participar. Boa leitura.
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