As fronteiras daquilo que é arte ou não estão cada vez mais complexas de serem definidas. Seja em função das barreiras, digamos, metodológicas, que permitem trabalhar e construir "conceitos" sobre arte, seja pela crescente utilizações de "presunções éticas e politicamente corretas" que impedem que as pessoas possam dizer em alto e bom tom aquilo que gostam ou desgostam, ou que consideram ou não que seja arte, sem que sofram as ingerências e críticas que são facilitadas pelo senso comum de que toda expressão um pouquinho mais elaborada merece um lugar na prateleira daquilo que se chama arte. Chegamos a mesmice, assim.
Ora, grande parte da música chamada de "sertaneja" é de uma chatice impressionante, seja pela estridência das vozes, pelo ridículo das letras e pela débil criatividade musical. Esta é uma opinião e, possivelmente, seja minoritária dentre aqueles muitos que apreciam esta espécie de "arte".
A música brasileira é uma das manifestações culturais mais edificantes de nossa brasilidade. A diversidade de estilos e formas sempre guardou proporção com a qualidade das produções, das letras, das melodias. Do baião ao samba (dois pilares de nossa musicalidade), do chorinho ao rock nacional (ele existe per se!), passando pelos "cantores do rádio" e pela inesquecível bossa nova, se pode ouvir uma "arte" que merece ser apreciada sem os "hermetismos" que na aparência sugerem que "tudo pode ser arte", mas que na realidade escondem os preconceitos e barreiras das coisas politicamente "corretas". Bom, estes dois parágrafos são apenas introdutórios e são incapazes de margear uma discussão tão ampla sobre o "que é e o que não é arte" (no sentido de "música"). Mesmo assim, prefiro ser claro e dizer que a atual música sertaneja - apenas para citar um exemplo - é um verdadeiro horror, muito embora seja bem ouvida por algumas multidões.
Num contexto tão pobre da atual música popular brasileira, sobra-nos os grandes autores e cantores: Caetano, Chico, Milton, Paulinho da Viola, Gil, Betânia, Marisa Monte, Rosa Passos, etc e etc. Estes persistem com o estandarte da beleza, da variedade, do multicolorido, da melodia instigante (e encantadora) daquilo que é chamada de "música popular brasileira". Esta geração, na qual muitos chegam aos setenta anos ainda é a nossa melhor geração musical dos últimos cem anos, muito embora Noel Rosa, Lamartine Babo e outros tantos possam brilhar com igual valor. E é raro podermos selecionar novos intérpretes, compositores e músicos que tenham o valor artístico desta geração dos anos 60 e 70. Somos devedores destes e temos de devotar a nossas maiores homenagens a eles de forma a que possamos escapar do sofrimento de escutar Chitãozinho e Xororó, Jorge e Mateus, Leonardo, César Menotti e Fabiano e outros tantos gritantes que estão a se espalhar por aí, inclusive nos centros acadêmicos.
Em meio a tudo isso, acabei de descobrir uma cantora excepcional e que produziu um CD doce e belo, seja pela qualidade artística-musical, seja pela cuidadosa e espinhosa produção. Trata-se de Alessandra Maestrini e o seu CD Drama`n Jazz (2012). É realmente impressionante a voz desta cantora, sua versatilidade e a "elasticidade" vocal que permite que suas versões de velhas músicas (tal qual a The Man I Love de George e Ira Gershwin) se tornem de fato em "outra canção". Isso prova a imensa fortaleza desta intérprete maravilhosa que destoa de tanto mau gosto solto pelas rádios e shows. A produção primorosa deste CD coube a Rodolfo Rebuzzi (também responsável pelos arranjos).
Tudo neste CD é permeado por grande talento, pela soma de inventividade e elegância, por uma produção gráfica inteligente, criativa e bela e por uma voz que parece se levantar em meio à "velha guarda" ainda cheia de vida e a pobreza musical que destoa da história da MPB. Saudemos Alessandra Maestrini. Para o nosso bem.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
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