terça-feira, 2 de março de 2010

"Simplesmente Complicado": Rir e Não Pensar

Eis um filme para divertir e quase nada a mais - será?. Simplesmente Complicado (It´s Complicated, EUA, 2009, direção e roteiro de Nancy Meyers, com Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin) cumpre o papel de comédia romântica com o brilho do desempenho de Alec Baldwin e com moderadas participações de Streep e Martin - este último de fato está sofrível no filme.
Trata-se da estória de Jane, mãe de três filhos pós-adolescentes, e que depois de dez anos de separação está a descobrir novos prazeres, da cozinha à cama, e, eventualmente pode ter um amor. A sorte (ou o azar) é que o seu ex-marido (Baldwin) constata, por razões oblíquas, que o seu verdadeiro amor é a ex-mulher. Entre os dois se interpõe o arquiteto Adam que está a projetar as novas dependências da (enorme e charmosa) casa de Jane. Adam também é separado e seu divórcio foi fruto de uma traição amorosa de sua ex-esposa durante uma viagem à Toscana, (Triste sina a de Adam).
Meryl Streep e Alec Baldwin, em cena do filme

Bom, os lances do filme são fruto de episódios engraçados dos encontros amorosos de Jane com o ex-marido e a tentativa de conquista do coração de Jane por parte de Adam. O roteiro não chega a ser preciso, pois a estória tem seguidos altos e baixos, mas isto não compromete o razoável resultado final. Até parece que a diretora Nancy Meyers apostou alto no elenco para compensar certas fragilidades de seu roteiro. É preciso fazer acontecer...
O interessante deste tipo de filme é que cada vez mais os homens são colocados em uma posição desconfortável perante si mesmos e o (inferno) dos outros. Ora Jake está a coletar esperma para tentar a gravidez com a nova esposa, ora vê-se inferiorizado pela alegre e realizada ex-mulher. Para Jane, o destino é fugir de qualquer esterótipo que possa enquadrá-la no velho "padrão" feminino. Se ela cozinha, é porque é profissional. Se ela revela as intimidades sexuais com o ex-marido, é porque é "livre", se ela é mãe é porque conta com a preferência evidente dos filhos, etc. e tal. Tudo sempre com ar de sutil superioridade. Coitado de Jake. Ele anda por aí com o seu moderno Porsche e com uma esposa jovem e bonita. Todavia, nada disso está relacionado com poder. Ao contrário: são exatamente estas as suas fragilidades. O que ele quer mesmo é ser amado, uma boa dose de sexo e um lar com boa comida e com os filhos ao redor. Como se vê, algo muito "doméstico" na falta de outra palavra que melhor o descreva.
Do ponto de vista amoroso, Jake está casado, mas a sua escolha é clara: deseja a ex-mulher e tudo é uma questão de tempo. Se no passado errou, isto não é parte de um inconsciente sobrecarregado - é uma experiência vivida e que não seria repetida. Já no caso de Jane, a coisa é diferente: ela pode ter o homem que quiser na sua cama e braços e, no caso, há dois disponíveis. Para ela não basta reconhecer que o ex-marido é o cara. É preciso recordar as mazelas do passado e enquadrá-las de tal forma que o ex seja sempre lembrado de que ele era isto e era aquilo. Bom, a certa altura do filme ela pronuncia com cuidado que também errou durante os vinte anos de casamento. Mas, e daí?
A vida é sempre uma escolha, mas para Jane é preferível ter opções.É claro que os homens já estiveram em melhor forma. Agora estão barrigudos, submetidos às intempéries dos relacionamentos e sem muita opção, apesar das aparências.
Como já disse, eis um filme que diverte. Pouco importa as sutilezas que marcam os comportamentos sexuais. Afinal, rir dos homens é divertido. Já rir das mulheres pode ser sexismo. Ao invés de cair no perigo mortal deste tipo de constatação é melhor sentar na poltrona, mandar uma pipoca com coca-cola e rir do filme. Viver é mais importante que pensar.

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