sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cidadão Kane: O Retrato do Poder

Ao assistir novamente Cidadão Kane  lembrei-me das últimas linhas de Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray que narram o assassinato de Basil Hallward e a destruição da tela que tanto atormentava Gray. No último parágrafo há uma lapidada sentença de Wilde: "No chão jazia o cadáver de um homem em traje a rigor com uma faca cravada no peito. Ele estava lívido, enrugado e repugnante. Só pelos anéis é que os seus criados conseguiram identificá-lo."
Cidadão Kane (Citizen Kane, EUA, 1941, dirigido por Orson Wells, com Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Everett Sloane e outros) foi a faca empunhada por William Randolph Hearst  que matou a carreira de Orson Wells. Até o final de sua vida ele não conseguiu mais fazer nenhum filme significativo. Suas últimas "obras" foram comerciais de TV sugerindo o consumo de bebidas que jamais ele tomaria. Tinha 24 anos quando concluiu Cidadão Kane - foi o seu auge.
William R. Hearst (1863-1951), um dos maiores magnatas da imprensa norte-americana e mundial até os anos 40, destruiu a carreira de Wells, mas não conseguiu, como Dorian Gray, destruir a "tela" que tanto atormentou.
Cidadão Kane é uma obra que se projeta até hoje como uma magnífica interpretação cinematográfica das entranhas do poder, da manipulação da opinião pública, da megalomania frenética dos poderosos e da ausência de escrúpulos e limites éticos nas relações pessoais, sociais e políticas. Isto mesmo: tudo isto.
É tarefa hercúlea fazer restrições de qualquer natureza ao filme de Orson Wells. Ele não é a perfeição porquanto esta não existe. Todavia, a equação que Wells montou e decifrou para montar o filme é genial. 
O filme conta a trajetória de Charles Foster Kane, herdeiro de uma imensa fortuna, mas que prefere iniciar a sua carreira profissional a partir de um pequeno jornal. Desde sempre, Foster sabia que era mais importante controlar as mentes do que os meios de produção mais aparentes, suas minas, fábricas e imóveis. Kane é o retrato de Hearst, mas ao escolher esta história, Wells sabia que estava indo além dos limites biográficos daquele poderoso magnata. O poder é indescritível, mas as suas manifestações e mecanismos são passíveis de serem conhecidos. Maquiavel já tinha nos legado este ensinamento, não é mesmo?
O roteiro, do qual o próprio diretor é co-autor juntamente com Herman J. Mankiewicz, foi inovador ao selecionar um fato específico e desconhecido (a descoberta do significado da última palavra pronunciada pelo protagonista antes de sua morte "Rosebud") para encaminhar toda a estória. Tudo começa com a morte do personagem principal, também estrelado por Wells. A partir daí segue-se uma longa e detalhada descrição dos fatos da vida daquele poderoso chefão da mídia. Wells vai a fundo e escolheu meticulosamente os fatos e as cenas que melhor instruíam o público na direção do que desejava transmitir.
É possível achar defeitos em Cidadão Kane, mas esta é tarefa hercúlea: as tomadas das câmeras são excepcionais e inovadoras, a luz e os cenários são quase sempre perfeitos e a atuação do elenco - sem celebridades, exceto o próprio Orson Wells - é exemplar. Sente-se em todos os cantos da tela o toque genial de Wells, o menino de 24 anos. No filme, há uma mescla de teatralidade com uma calculada artificialidade, ou seja, ao assistir o filme, nota-se que Wells não se preocupou em ser realista do ponto de vista cênico. Ao contrário. Para ele o que era importante era criar o cenário, o diálogo , a fotografia, a música e as tomadas, como elementos "necessários" para que a "idéia" do filme chegasse não somente aos olhos dos espectadores, mas também às suas mentes. O resultado é tão explosivo quanto foi a raiva de William R. Hearst ao ver as suas tripas expostas pelo jovem diretor.
O tempo para Cidadão Kane continua a passar muito lentamente. O argumento do filme é não somente eficaz para a sua execução. Os seus efeitos permanecem no tempo: o poder e a sua manipulação pela política e pela mídia continua a ser assunto prioritário nesta era em que a democracia parece vazia de valores e com suas estruturas corrompidas, arcaicas e sem a representatividade imaginada pelos gregos.
Cidadão Kane ganhou apenas um Oscar (o de melhor roteiro), muito embora tivesse sido indicado para oito  (ator,direção de arte, fotografia, montagem, trilha sonora, filme e som)  - Orson Wells concorria a quatro. Hollywood estava comprometida com Hearst e seduzida pelo seu poder. No dia da entrega do maior prêmio do cinema americano vaiou o filme a cada vez em que ele foi mencionado. O filme apenas se consagrou aos final dos anos 50 e início dos 60. 
Orson Wells morreu ao 70 anos (em 1985) amargurado com a idéia de que sua carreira tivesse "se encerrado" aos 24 ou 25 anos. Lamentou em uma entrevista concedida em 1982 que tivesse continuado na indústria cinematográfica depois de Kane. Disse ele que "nesta indústria se gasta 2% do tempo fazendo filmes e 98% fazendo politicagem". Ele sentiu nas suas entranhas obesas o peso do poder relatado em seu brilhante filme. Mostrou as entranhas do poder, mas possivelmente não as tenha decifrado por completo. 

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Woody Allen: a Velha Piada Ainda Faz Rir

Lá se vai outro filme do cineasta norte-americano Woody Allen. Depois de Vick Cristina Barcelona (2008) e Match Point (2005), ele retoma o seu velho estilo em Tudo Pode Dar Certo (2010, EUA, Whatever Works, com Larry David, Michael McKean e Carolyn McCormick).

O filme conta a estória de um velho professor de física quântica que aposentado, ensina xadrez a jovens os quais julga imbecis e incapazes de articular as menores idéias. Em meio à pregação diária e rabugenta que faz contra a humanidade, a religião, a arte, a convivência social, etc. ele vem a conhecer inusitadamente a sedutora Melodie  St. Ann Celestine, uma sulista recém-chegada à Nova York. Ela lhe pede abrigo por uma noite, mas ele descobre que se trata de um abrigo (quase) permanente. Depois de algum tempo, ela se manifesta apaixonada pelo velho professor e o toma por esposo. Daí por diante começa o inferno dele: a jovem é encontrada pela mãe e pelo pai, conservadores cristãos, os quais passam a conviver com o novo (e surpreendente) casal. Nova York há de revelar aos seus novos moradores as angústias e faces mais escondidas. Woody Allen não é apenas um discípulo de Freud. É talvez a sua maior vítima na história do cinema mundial.
Woody Allen sempre teve como seu ponto mais forte a escrita de seus diálogos que combinam uma invejável vastidão de conceitos, preconceitos e afetações. Tudo isto numa velocidade impressionante e numa combinação frasal a qual não escapa sequer à sonoridade das palavras - estas parecem em muitos momentos cuidadosamente rimadas no ritmo new yorker. Além disto, ele mantém, assim como na maioria de seus filmes, desde Bananas (1971), uma saída estratégica: quando o personagem principal está a gastar a sua verborragia e a situação cênica não permite os diálogos com os outros personagens, a câmera é a saída. Na maior simplicidade, o personagem começa a falar com a platéia como se diálogo fosse. Note-se que, neste contexto interativo, o óbvio soa muito engraçado e, assim, sobrevive um ar de "participação" da platéia. Pouco importa que o distinto público seja eventualmente a "parte imbecil" a recepcionar as graças de Allen e seus esquizofrênicos personagens.
O elenco deste filme é, em geral, muito bom, mas não seria condição necessária o talento especial de cada um. O roteiro é tão forte, bem como o personagem principal, que o resto do elenco fica meio obscurecido. Do limão, Allen faz a limonada.
Há ainda a trilha musical que incide como elemento "dramático" especial quando os personagens estão a falar de sexo, religião, psicologia e, no caso deste filme, da imbecilidade que é o ser humano. De Beethoven até a nossa Bossa Nova a conjunção entre a imagem e a música é realmente algo especial. Ele cuida disto como se fosse um filho fosse.
De resto, sobra o velho Allen. O filme não agrega muito à filmografia do cineasta. Há muita repetição neste filme dos seus velhos truques, sendo o principal deles a forma dos diálogos conforme escrevemos acima. Além da indignação permanente dos personagens diante das coisas mais banais. O coloquial se soma ao banal. A palavra eleva a ambos. 
Se não fosse a sofisticação e inteligência Woody Allen o filme seria daquelas chatices que fazem com que olhemos para o ingresso e nos arrependamos nas entranhas por ter ido ao cinema. Afinal, este tipo de filme de Allen não têm outros recursos senão os que o consagraram. 
Ele age como os trapezistas ou os palhaços do circo. A platéia inteira sabe o que eles vão fazer, mas todo mundo se diverte e ri diante das coisas óbvias que os artistas estão a fazer. Com a diferença que Woody Allen é suave na forma e agudo na caracterização: o homem é quase sempre imbecil, mas não perdeu a capacidade de rir de si mesmo. 

domingo, 25 de abril de 2010

Lembrando o Centenário de Noel Rosa e Adoniran Barbosa

Escreve Eric J. Hobsbawn em A História Social do Jazz (The Jazz Scena, 1989): "(...) a essência do jazz é não ser uma música padronizada ou produzida em série (embora a música popular influenciada pelo jazz o seja) e, em segundo lugar, o jazz tem muito pouco a ver com a indústria moderna." Acredito que esta observação sobre o mais importante estilo musical da América seja possível de ser enquadrado à perfeição em relação ao samba no Brasil.
Muito embora o samba tenha evidente nascente africana, a sua batida e ritmo estão mergulhados em mistérios: de uma dança ritualística africana passou a integrar a linguagem popular por meio da difusão originada nas entranhas da escravidão da era do açúcar. Da favela do morro desceu à cidade e invadiu o Rio de Janeiro, e daí, passou a ser o ritmo do Brasil. No mundo, inclusive.
De outro lado, temos de reconhecer que o samba desperta certos preconceitos entre as elites brasileiras. Narizes são torcidos e dedos mudam a estação de rádio quando toca o ritmo mais genuíno do país. Mas, o samba vive e continua a sem poder ser contido seriado ou padronizado. Tal qual o jazz, o samba desfila uma capacidade extraordinária de manter sua raiz e ao mesmo tempo transmitir seus genes por diversos estilos - deita raízes. O samba é o nosso jazz.
Foi exatamente esta a sensação que recuperei na mente e na alma ao assistir ontem (24/04) a apresentação da Orquestra Jazz Sinfônica, regida pelo maestro João Maurício Galindo tendo como solista a excepcional cantora Fabiana Cozza. Era um concerto que comemorava o centenário de nascimento de nada menos Noel Rosa e Adoniran Barbosa.

Adoniran é daqueles mistérios brasileiros. De uma presumida malandragem exala uma poética popular, um cantarolar diferente que mistura samba e certos vestígios "italianados" da Paulicéia Desvairada. Interessante cantar Adoniran Barbosa (cujo nome verdadeiro era João Rubinato): entre os versos podemos destacar seu inconfundível humor e ao mesmo tempo uma lírica sofisticada. Vejamos em Bom Dia Tristeza:


"Se chegue tristeza
Se sente comigo
Aqui nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar"



Ou ainda em Carolina:


"Ela escreveu um livro
Sobre a vida de um cortiço
O que ela escreveu
Tá causando reboliço
Carolina é um sucesso
Vão levá-la pra cidade
Até querem que ela faça
Conferência na Argentina."


Eis a tristeza que se assenta numa mesa de bar e uma Carolina que abandona o morro, afinal o seu sucesso é o fim de uma "estação da vida". Tudo respira humor e afaga o lirismo daquilo que se perde em meio à turbulenta vida de um favelado ou maloqueiro. Adoniran é o gênio que  dispensa o seu olhar à realidade e desta traga o que há de mais óbvio numa forma inovadora. É o samba que lhe permite isto.
Noel Rosa é certamente, ao lado de Chico Buarque de Holanda, o maior letrista da música popular brasileira. Assim como Nelson Rodrigues fez na literatura e na arte dramática, Noel Rosa soube captar o espírito mais provinciano, malandro e eufórico do Rio de Janeiro. Ele foi tão a fundo nesta missão que suas músicas se tornaram transcendentais: canta-se até hoje suas belas e bem acabadas letras. Noel soma, por assim dizer, a expressão mais popular com as redondilhas mais especiais. Noel Rosa é um gênio que espanta qualquer discussão que não parta desta premissa. São mais de 300 músicas em pouco mais de sete anos de vida artística. O boêmio esteve aqui de passagem (morreu aos 26 anos), parece que tinha por única missão deixar o melhor acervo do samba nacional. Ele é a prova mais viva de que a assertiva de Hobsbawn cabe como uma luva no samba. Vejamos em Minha Viola a sofisticação da linguagem e a transmissão exata da idéia que persegue, além de um humor inconfundível:

"Eu tive um sogro cansado dos regabofe
Que procurou o Voronoff, doutô muito creditado
E andam dizendo que o enxerto foi de gato
Pois ele pula de quatro miando pelos telhado
Adonde eu moro tem o Bloco dos Filante
Que quase que a todo instante um cigarro vem filá
E os danado vem bancando inteligente
Diz que tão com dor de dente
Que o cigarro faz passá."

Em Mentiras de Mulher Noel Rosa consegue ao mesmo tempo ser o autor da descrição e o seu partícipe mais ativo (da própria idéia). É talvez a sua melhor marca e de onde sempre partiu para refinar seu repertório. Vejamos:

"Esta mulher jamais se cansa,
De fazer trança,
Na mentira é um colosso,
Sua visita tão cacete,
Que escrevi no gabinete:
"Está fechado para almoço".

Este centenário duplo de Noel Rosa e Adoniran Barbosa (sobre a sua data de nascimento há dúvidas) foi magnificamente bem lembrado pela Orquestra Jazz Sinfônica e pela paulista Fabiana Cozza. Uma pena mesmo é que esta lembrança seja modesta frente a importância destes dois para a música popular brasileira e para o samba. 
Seria uma benção para o país se se cantasse mais Noel e Adoniran. Olhando para o passado o país poderia construir um futuro mais promissor para a sua música popular. 


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Zona Verde, Um Filme Que Deixa Hollywood Vermelha

Comentamos no dia 16 de fevereiro deste ano, neste blog, o filme "Guerra ao Terror", talvez o maior ganhador do Oscar deste ano. Na ocasião escrevemos:
"Na essência é um filme fraco, sem idéia conseqüente, sem brilho de interpretação e com uma direção bem tradicional no que diz respeito aquilo que se vê em outros filmes. O mais incrível de tudo, é que a diretora (e seu filme) Kathryn Bigelow é comemorada entre a tigrada de Hollywood como a grande sensação deste período pré-Oscar." 
Além disto, naquela ocasião comentamos que "o sofrimento do Iraque e dos americanos nesta desastrada invasão de Bush Jr. é um poço de oportunidades para se construir roteiros criativos e inteligentes."
Pois bem: eis que chega a temporada de Zona Verde (Green Zone, 2010, dirigido por Paul Greengrass, com Matt Damon, Yigal Naor e Said Faraj). Trata-se de um filme de ação que soube ser construído dentro de um roteiro criativo e que é recheado de enormes, evidentes e catastróficas verdades de tudo o que ocorreu na segunda invasão do Iraque por parte do famigerado George W. Bush.

O sub-tenente Miller (Matt Damon) é responsável por achar as tão famosas "armas de destruição em massa". Para isto serve-se de relatórios da inteligência militar, produzidos antes da invasão norte-americana pelo Pentágono. Pouco a pouco, o patriota subtenente vai descobrindo que há algo errado naqueles relatórios de vez que os lugares indicados não passam de instalações irrelevantes do ponto de vista militar. Pergunta-se para si mesmo: "onde estão as armas de destruição em massa?"
Bom, esta pergunta é muito óbvia tanto quanto a sua resposta: simplesmente elas não existem a despeito do case feito pelo Governo Bush para se justificar perante à ONU e à opinião pública norte-americana e mundial. Sempre se soube que aquilo tudo não passava de uma farsa de quinta espécie e que sequer obedecia aos princípios da raison d´état tão caros ao velho Cardeal Richelieu. Afinal, as ameaças aos Estados ocidentais da parte do Iraque não passavam de puro interesse econômico e, em alguma medida, geopolítico. Nada havia relativo à segurança americana.
O filme, a partir da constatação do subtenente Miller, tem a coragem de ir à fundo na questão: denuncia não somente a farsa, mas expõe com surpreendente nudez os mecanismos de poder e as artimanhas que construíram a tomada do Iraque. Vidas humanas foram sacrificadas em torno de um complô internacional liderado por Bush e seu aliado transatlântico Tony Blair.
Há ainda uma particularidade no filme que me parece relevante: dentre as engrenagens maquiavélicas que operaram naquela invasão está a imprensa, tantas vezes chamada de Quarto Poder (como no filme homônimo do diretor grego Costa-Gavras). Não foram poucas as desculpas que órgãos de imprensa importantes tais como o New York Times, Washington Post, Wall Street Journal, CNN e BBC tiveram de pedir sem solenidades ao distinto público (ou será "opinião pública"?). Todavia, que fique bem claro: Zona Verde nos ensina que não está ainda na hora de dizermos "estão desculpados" para esta patota do Quarto Poder. Seu papel foi vergonhoso não somente pela incompetência, mas também pela associação privada que fizeram com o complô de Bush e Blair. Nas barbas dos parlamentos mundiais.
Por fim, quem deveria sair ruborizada do cinema era a claque de Guerra ao Terror. Aquele filme conta algo que parece eletrizante, mas, de fato, esconde a verdade. Serviu a capacidade midiática da diretora do filme (Kathryn Bigelow) para que o filme parecesse inovador e arrojado, inclusive do ponto de vista do roteiro. Zona Verde é, por seu turno, eletrizante e joga no rosto de espectador aquilo que foi (e é) a realidade iraquiana.
Hollywood, neste caso, deveria sair da Academia de Cinema e ir para a de ginástica. Afinal, sobraram malabarismos e contorções em torno de Guerra ao Terror. Ou, ainda, poderiam ir dar um pulinho no cinema mais próximo e assistir Zona Verde. Ninguém veria os membros da tal academia ruborizados no escurinho do cinema. 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mark Twain: O Centenário de Um Fundador Literário

Comemoraremos dia 21 de abril o centenário da morte de Mark Twain, pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens, certamente um dos maiores escritores norte-americanos. Ou para ilustrar melhor o seu papel histórico, uso uma frase cunhada por ele mesmo: I am not an American, but I am the American.
Mark Twain nasceu em 30 de novembro de 1835 na Flórida e morreu a 21 de abril de 1910. Em ambas as datas o cometa Halley pôde ser visto a olho nu na terra. Uma das razões justas para rememorá-lo é o fato do próprio Twain sempre ter cultivado a expectativa de que fosse relembrado ao longo do tempo. Sua auto-biografia, publicação póstuma de 1924 teve redobrada atenção do escritor em seus últimos anos de vida.
Vários livros foram lançados para comemorar o centenário da morte do escritor. Muitos aspectos são abordados neste compêndios biográficos (a relação de sua obra com sua vida, suas viagens, seus amores, sua vida mais íntima). Todavia, há um traço comum sempre que nos defrontamos com um escrito sobre Twain: foi ele o fundador da moderna literatura norte-americana e, assim, perpetrou a alma dos mais importantes escritores modernos norte-americanos. O próprio Ernest Hemingway relevou este papel e reconhece que inspirou-se na obra de Twain.
Certamente, este caráter fundador da obra de Twain deriva de seu profundo repertório sobre o arquétipo do Homo Americanus conforme cita o ensaísta norte-americano H.L. Mencken. De muitas formas, Mark Twain acreditou no American Dream, na possibilidade de que um simples mendigo pudesse se tornar um príncipe, apesar de nunca ter alcançado a fortuna material. A força literária desta idéia reforçou em vários momentos a ideologia política sobre o tema. Quase todos os presidentes norte-americanos do século XX utilizaram citações e o próprio espírito de Twain para dar moldura a seus discursos sobre a gênese do povo americano. De Theodore Roosevelt a Barack Obama. Interessante notar que a crença de Twain no espírito americano se revelou a despeito de todas as dificuldades que vivenciou na sua infância após a morte de seu pai o qual deixou elevadas dívidas. Este espírito que marcou a sua trajetória literária não sucumbiu à realidade factual de sua própria família. Ao contrário, forjou a personalidade de sua realidade e ficção.
Do ângulo estritamente literário, não deixa de ser muito notável que não foram muitos livros do autor que transbordaram este espírito americano vanguardista e crente no futuro, muito embora outros tenham tratado de estórias e histórias sob a mesma temática. Basicamente, foram dois: The Adventures of Tom Sawyer e Adventures of Huckleberry Finn. O grande Charles Dickens, apesar de sua imensa obra marcada pelo espírito do capitalismo inglês, não conseguiu trilhar o caminho que levou Twain a inaugurar uma nova era literária. Ao contrário, não há nenhum crítico literário que eleve Dickens a este patamar. Twain é e tido quase de forma unânime como portador deste título de "fundador".

No centenário deste gigante, gostaria de ressaltar dois aspectos marcantes em sua obra e que, nos dias atuais, tornam a sua leitura tão necessária quanto crítica: o seu humor e a sua reflexão despreocupada com as conseqüências aparentes que pudessem provocar.
No que se refere ao seu "humor" o que se vê em seus principais livros não tem o objetivo de arrancar risadas de seus leitores, mas utilizar uma linguagem coloquial e engraçada para tratar dos fatos. Como bem disse Ernest Hemingway quando recebeu o seu Prêmio Nobel em 1954, "Mark Twain não foi um autor cômico, mas um verdadeiro humorista". Adiante em seu discurso de aceitação do Nobel, Hemingway ressalta que dificilmente Twain lograria o prêmio da Academia Sueca dada esta característica a qual não é tão apreciada pelos literatos e os críticos. As reflexões consideradas mais profundas dos diversos grandes escritores sempre foram dissociadas da mescla de humor, realidade e ficção, muito embora em Twain este estilo tenha servido largamente para a consolidação de seus personagens como tipos notáveis de seu tempo. Twain foi, como Charles Chaplin no cinema, um observador e crítico voraz do imperialismo, da discriminação e da realidade contraditória da sociedade vigente em seu tempo. De maneira coloquial, ele soube extrair o melhor "estranhamento literário", necessário para que emergisse o significado real de seus relatos. Ao lê-lo, respira-se o exato espírito no qual estão mergulhados seus personagens. O seu maior feito estilístico é o próprio humor contido nas linhas de seus livros.
De outro lado, os escritos de Mark Twain eram recheados de expressões particulares, de uma aparente vulgaridade que até hoje motivam correntes que pregam o seu banimento das leituras obrigatórias no sistema de ensino norte-americano. Ora, esta matiz enraizada no "popular" é sinal vigoroso de seu vanguardismo. Os "politicamente corretos" julgam-na como discriminatória. Coitados, não sabem do que estão a falar, pois a "correção política" na maioria das vezes está ligada a um superficialismo pouco analítico e incapaz de penetrar na essência dos signos literários. Para além da lingaugem, temos a "mensagem".
A irreverência de Twain faz falta nos dias atuais. Refiro-me a irreverência que vai além da aparente vulgaridade, mas aquela que é capaz de traduzir por meio da "linguagem popular" e "esculachada" a realidade social mais profunda e injusta. No mundo de hoje, os intelectuais perderam esta capacidade e submergiram nas facilidades do lugar-comum, da ideologia fabricada e nas ligações com os interesses mais imediatos de seu público ou patrocinadores.
Neste centenário de Samuel Langhorne Clemens, o Mark Twain, vale a pena lê-lo e aprender mais além do que ele escreve. A irreverência que inaugurou uma nova época literária na América pode servir de exemplo neste país abaixo do Equador.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Caso Isabella Nardoni: Sentença Proferida, Justiça Feita?

A prisão já acalenta a mais acentuada das paixões que pode ser despertada quando nos deparamos com um crime bárbaro: a necessidade de que haja vingança aquele que cometeu o delito. Refiro-me ao pathos que nos move como se justiceiros fôssemos, sem que nos importemos muito a fundo se se praticou a Justiça enquanto valor e virtude social da criação humana.
Escrevo, já com certa distância do momento, sobre o julgamento do casal Nardoni. Há nos eventos que levaram à morte daquela menina Isabella algo de diabólico. Quem poderia negar? Uma menininha despenca andares abaixo por força de outrem e morre, devastada em seu primeiro momento da idade. Eis a tragédia instalada.
Aí vem a comoção social, pois afinal estamos diante de um fato ainda mais assustador: seriam os pais os assassinos, um casal associado por um pacto que foi feito em minutos, pois afinal este foi formado entre o momento em que a criança foi esganada pela madrastra e os minutos seguintes quando se decide jogá-la daquela janela de apartamento. Fosse uma peça teatral, os fatos sairiam da pena brilhante de Nelson Rodrigues.
A cobertura da imprensa e a reclamação popular sobre o caso foram igualmente espetaculares. A lide entre um procurador, representante da Lei, e aqueles jovens pais foi resolvida por uma sentença que jogou os réus no cárcere por alguns (longos?) anos e de alguma forma lhes destruiu as próprias vidas. A coisa toda terminou como em jogos de futebol: a multidão vaiava não somente os criminosos condenados, mas, até mesmo, os advogados que os representavam. A razão pelos lados do Fórum de Santana em São Paulo não era abundante. O que valia mesmo era a paixão. As falas dos procurador da Lei Francisco Cembranelli eram como jogadas de Garrincha, a alegria do povo.
Fazer justiça é algo complexo. É quase impossível que alguém consiga se aproximar demasiadamente dos fatos reais. A verdade é sempre obscura, às vezes mais clara, às vezes mais turva. Ainda mais difícil é nos aproximarmos dos réus o que permitiria conhecimento mais profundo, conseguir entendê-los e vê-los mais além do protagonismo mais importante e trágico de suas vidas. Afinal, é quase certo que tenham cometido o crime. Todavia, é preciso que se reconheça que isto não os torna essencialmente assassinos. Anna Jatobá e Alexandre Nardoni não me parecem assassinos, muito embora tenham matado aquela inocente. Espero que estejam me entendendo...

O mais incrível para mim foi a turbação espalhada nos arredores daquele fórum. Que sobravam torcedores a pulular e gritar não resta dúvida. Importa a estes a Justiça enquanto um dos valores supremos de uma sociedade? Tenho dúvidas.
A sociedade brasileira é uma das mais violentas do mundo. Basta que nos defrontemos com os números de crimes e assassinatos para nos certificarmos de que nós, enquanto Nação e Estado, nos aproximamos muito da imagem de criminosos. Somos Narcisos às avessas. Eis um fato, não um mito. Também parece-me verdadeiro que somos uma sociedade carente de Justiça: nossas prisões nos envergonham, o sistema judicial está afogado e é lento, a repressão policial é de péssima qualidade e a injustiça social é, sem dúvida, a moldura mais ilustrativa de todo este mecanismo defeituoso.
É possível e legítimo que se faça várias análises e se teça variadas retóricas sobre o julgamento de Anna Jatobá e Alexandre Nardoni. Faço meu o direito de também fazê-las.
Permito-me suspeitar da severidade das penas aplicadas. Refiro-me não a boa-fé dos envolvidos no processo de julgamento, mas a inegável influência que aquela multidão apaixonada teve sobre o sentenciamento dos réus.
Acredito que o casal assumiu a representação de algo muito maior do que os próprios fatos daquele crime: eles encarnaram a demanda por Justiça de uma multidão que se identificou extraordinariamente com o caso e desejou extrair daquele júri penas além do critério da proporcionalidade. O caso Nardoni não é um paradigma de justiça. É apenas um trágico caso de homicídio. Bastaria-nos verificar o que corre nas varas criminais de todo o país. Todavia, a morte de Isabella foi tratada sob a influência de um "espírito social" que reclama Justiça a um custo que não necessariamente obedece aos preceitos de proporcionalidade das penas e de respeito ao condenado. Os Nardonis foram à época de seus julgamentos o amálgama da carência mais profunda de Justiça. O perigo é que esta pode vir descaracterizada e esfarrapada pelas paixões de cidadãos que se tornam "torcedores" às portas dos tribunais.
O livro Dos Delitos e Das Penas de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria (1738-1794) foi um grito estrondoso no Iluminismo a favor da Justiça e da proporcionalidade das penas. Diante da crueldade de então, ele soube criar uma rebelião construtiva em favor de todos, inclusive daqueles que cometeram crimes. Para ele "o homem deve ser sempre tratado como pessoa, nunca como coisa, objeto". Ou seja, o homem é sempre fim e não meio. Esta humanização do sistema judicial não é apenas necessário. Ela deve ser um caminho em prol da solidariedade e da ética. Fazer justiça, sempre! Particularizá-la, jamais!
O Judiciário já exerceu o seu papel punitivo e a multidão pareceu estar satisfeita. Todavia, parece-me legítimo que nos perguntemos à luz da razão serena e justa: os Nardonis não foram de muitas formas "coisificados" pela mídia e pelas multidões? Mais adiante: eles não se tornaram "meios" de justiça (demandados por um povo sem Justiça) e não o seu fim? A sentença não pode ter sido influenciada por estes fatos questionados?
Nem sempre a questão é sabermos quem matou. Mesmo que saibamos quem matou Isabella é preciso averiguar se fizemos justiça com proporcionalidade sob os raios da razão.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Solista: Elegante Não Tropeça no Simplismo

Na sociedade contemporânea é possível e está se tornando cada vez mais provável que se banalize aquilo que se chamava "norma culta", a língua, as artes, a literatura e assim vai. Uma coisa é a popularização e o maior acesso de todas as classes sociais aquilo que há de melhor na produção cultural. Outra coisa é a crença na capacidade de que quase tudo que emerge "do povo" possa se tornar parte do itinerário da arte. Não pode. Ademais, é preciso que se entenda que a reflexão sobre a problemática social, política e econômica não pode ser entendida como algo óbvio ou banal. O mundo é, por definição, complexo e o pensamento que surge desta realidade requer sofisticação na análise para que se possa revelar respostas mais aproximadas à verdade.
O filme "O Solista" (The Solist, 2009, EUA, França e Reino Unido, direção de Joe Wright, com Robert Downey Jr, Jamie Foxx e Catherine Keener) nos conta a história de Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), um mendigo que percorre os logradouros de Los Angeles tocando música clássica em instrumentos de cordas. Ele é um ex-aluno da respeitadíssima The Julliard School, localizada no Lincoln Center em Nova York, e que forma os melhores artistas da América. Ayers é "reconhecido" em meio a um túnel pelo jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) do Los Angeles Times. Ao escutar as elegantes notas emitidas pelo mendigo, Lopez passa a se interessar pela sua história e descobre suas origens, bem como o brilho de seu talento. A partir destas constatações expõe a história a seus numerosos leitores que reconhecem naquele mendigo um pouco da sociedade em que estão situados. 
Ocorre que Ayers sofre de esquizofrenia o que lhe impede de conviver socialmente, bem como foi a causa para o seu auto-abandono e seu trágico destino.
Temos neste filme a colisão das imensas possibilidades de um talentoso artista e a as suas impossibilidades sociais, psicológicas e também econômicas. Tudo isto sem nenhum populismo. O talento musical de Nathaniel Ayers é estrondoso e a sua paixão é pelo melhor de Ludwig van Beethoven, suas sonatas e concertos. Não há sob o manto da esquizofrenia de Ayers nenhuma concessão quando o assunto é música: ele ama o que há de melhor e persiste encantado pelas notas que exalam o sabor da vida e obra do compositor alemão.
Lopez quer ajudá-lo e neste tarefa se defronta com a magnitude do problema social de Los Angeles. Há naquela cidade uma multidão ao redor de cem mil pessoas de desamparados e abandonados. Pessoas que estão submetidas, no centro do maior capitalismo mundial, à humilhação, ao completo desamparado, ao consumo desenfreado de drogas e à indiferença da classe política. (Isto lembra outro lugar?).
É certo que não há salvação para a esquizofrenia de Ayers. Tão certo quanto o fato de que seu talento não pode ser removido. O mais sugestivo deste filme é que não há nenhum tropeço do diretor para a análise "populista" da questão. Todo o tema é exposto com sinceridade de propósito, mas nada resvala para a simplificação do contexto do personagem e da realidade que o cerca. Ao contrário, o sofrimento é passado por meio da lente cuidadosa de Wright, o diretor, sem concessões a nada que seja piegas ou que contenha o mau hálito do simplismo. Nesta história não é o "povo" que contém sabedoria, um jargão político tão utilizado. É Ayers, um esquizofrênico pobre que caiu nas traças do mundo, que carrega o seu talento que, por sua vez, é reconhecido e divulgado. Não há da parte do jornalista nenhuma vantagem extraída de seu achado: ele se concentra na realidade factual, sem contornos ou palavras que a neguem, mas sem resvalar nas facilidades da simples denúncia.
Estamos diante de um filme sublime, elegante, bem contado e excepcionalmente bem desempenhado pela dupla Foxx-Downey Jr. Quando terminamos de ver o filme sabemos que o mundo pode ser mau, mas ainda há o som da beleza da arte culta que nos salva de nossa própria esquizofrenia.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Nelson Rodrigues e o Caráter do Brasileiro

Poucos pensadores brasileiros conseguiram apreender o caráter mais profundo do brasileiro. Não foram poucos aqueles que buscaram penetrar na alma brasileira e dela retiraram os genes que explicam o nosso comportamento antropológico e político.
Sem maiores pretensões e sem um critério científico aplicado à tarefa de listar estes pensadores, tomo a liberdade de citar aqueles que julgo os mais notáveis: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro. Suas principais obras se constituem individual e conjuntamente o que de melhor o Brasil pode respirar em termos de pensamento. Freyre, com a sua Casa Grande & Senzala, Buarque de Holanda com Raízes do Brasil e Faoro com Os Donos do Poder. Nestas obras não encontramos a universalidade humanista, mas o mais nítido universo da brasilidade, seja do homem comum, seja das elites. Do universo para o subúrbio.
Tenho para mim que poderíamos incluir mais um "pensador" neste rol. Trata-se de Nelson Rodrigues. Muito embora a sua dramaturgia esteja para além das muradas acadêmicas, ele soube construir uma obra que no seu mosaico constrói de forma espetacular o caráter (ou a ausência dele) do brasileiro. Certamente ele rejeitaria a empreitada de "pensador".
Ler Nelson Rodrigues é, além de um prazer literário, uma descoberta a cada linha e parágrafo. Uma revelação da personalidade brasileira, retirada e reiterada no seu gesto mais particular.
Rodrigues foi um escritor que confrontou com esmero lingüístico e factual uma visão própria e moral da vida com as evidências mais notórias e inconfundíveis do cotidiano do brasileiro urbano e suburbano. Nesta paisagem as elites do país ficam em posição muito desconfortável:  se o povo tem as "suas cáries morais e éticas" (nas palavras de um amigo), as elites podem ser categoricamente descritas como burras, incompetentes, cínicas e incapazes de ir além de poucas invenções que lhes servem à dominação.

Os personagens das crônicas de O Óbvio Ululante, A Vida Como Ela É, Sob a Sombras das Chuteiras Imortais, bem como a sua obra teatral (sobretudo, A Falecida, Vestido de Noiva, Bonitinha, mas Ordinária e Álbum de Família) sequer parecem  flutuar entre a ficção e a realidade. O mérito rodriguiano é cavar as fissuras dos homens e mulheres brasileiras e numa excepcional valsa com a língua dizer o que tem de ser dito. De fato, não há nada ficcional. É o hipertexto da própria realidade. Trata-se de um espelho límpido de nosso caráter. Ao leitor não cabe sequer tentar salvar a própria pele e dizer que o espelho está quebrado. Não está não! Até mesmo não chegamos a nos espantar com o que vemos. Como diz Nelson: "Reparem como o brasileiro se espanta cada vez menos. Somos um povo de pouquíssimos espantos." Escreveu isto em fevereiro de 1968.
É bom rir junto com Nelson Rodrigues. Tão incrível é ver a atualidade de sua obra. O Brasil não é país afeito às transformações das suas camadas de pele mais profundas. Nunca nos aproximamos dos músculos que devem nos sustentar. Ao contrário, o intenso processo de urbanização, o advento da internet, o aumento monumental do consumo, a sexualização alavancada pelos meios de comunicação, a redução do protecionismo econômico não produziram tantas transformações antropológicas quanto imaginamos. Pelo menos no que tange ao caráter social do povo e de suas "moderninhas" elites. Nem mesmo a democracia é um fato. Ela é apenas um evento eleitoral que renova a maior parte da arquitetura arcaica do país. Provaremos mais deste cálice nos próximos meses.
No dizer do próprio Nelson: "O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte." Fica o dito pelo próprio dito.