segunda-feira, 26 de abril de 2010

Woody Allen: a Velha Piada Ainda Faz Rir

Lá se vai outro filme do cineasta norte-americano Woody Allen. Depois de Vick Cristina Barcelona (2008) e Match Point (2005), ele retoma o seu velho estilo em Tudo Pode Dar Certo (2010, EUA, Whatever Works, com Larry David, Michael McKean e Carolyn McCormick).

O filme conta a estória de um velho professor de física quântica que aposentado, ensina xadrez a jovens os quais julga imbecis e incapazes de articular as menores idéias. Em meio à pregação diária e rabugenta que faz contra a humanidade, a religião, a arte, a convivência social, etc. ele vem a conhecer inusitadamente a sedutora Melodie  St. Ann Celestine, uma sulista recém-chegada à Nova York. Ela lhe pede abrigo por uma noite, mas ele descobre que se trata de um abrigo (quase) permanente. Depois de algum tempo, ela se manifesta apaixonada pelo velho professor e o toma por esposo. Daí por diante começa o inferno dele: a jovem é encontrada pela mãe e pelo pai, conservadores cristãos, os quais passam a conviver com o novo (e surpreendente) casal. Nova York há de revelar aos seus novos moradores as angústias e faces mais escondidas. Woody Allen não é apenas um discípulo de Freud. É talvez a sua maior vítima na história do cinema mundial.
Woody Allen sempre teve como seu ponto mais forte a escrita de seus diálogos que combinam uma invejável vastidão de conceitos, preconceitos e afetações. Tudo isto numa velocidade impressionante e numa combinação frasal a qual não escapa sequer à sonoridade das palavras - estas parecem em muitos momentos cuidadosamente rimadas no ritmo new yorker. Além disto, ele mantém, assim como na maioria de seus filmes, desde Bananas (1971), uma saída estratégica: quando o personagem principal está a gastar a sua verborragia e a situação cênica não permite os diálogos com os outros personagens, a câmera é a saída. Na maior simplicidade, o personagem começa a falar com a platéia como se diálogo fosse. Note-se que, neste contexto interativo, o óbvio soa muito engraçado e, assim, sobrevive um ar de "participação" da platéia. Pouco importa que o distinto público seja eventualmente a "parte imbecil" a recepcionar as graças de Allen e seus esquizofrênicos personagens.
O elenco deste filme é, em geral, muito bom, mas não seria condição necessária o talento especial de cada um. O roteiro é tão forte, bem como o personagem principal, que o resto do elenco fica meio obscurecido. Do limão, Allen faz a limonada.
Há ainda a trilha musical que incide como elemento "dramático" especial quando os personagens estão a falar de sexo, religião, psicologia e, no caso deste filme, da imbecilidade que é o ser humano. De Beethoven até a nossa Bossa Nova a conjunção entre a imagem e a música é realmente algo especial. Ele cuida disto como se fosse um filho fosse.
De resto, sobra o velho Allen. O filme não agrega muito à filmografia do cineasta. Há muita repetição neste filme dos seus velhos truques, sendo o principal deles a forma dos diálogos conforme escrevemos acima. Além da indignação permanente dos personagens diante das coisas mais banais. O coloquial se soma ao banal. A palavra eleva a ambos. 
Se não fosse a sofisticação e inteligência Woody Allen o filme seria daquelas chatices que fazem com que olhemos para o ingresso e nos arrependamos nas entranhas por ter ido ao cinema. Afinal, este tipo de filme de Allen não têm outros recursos senão os que o consagraram. 
Ele age como os trapezistas ou os palhaços do circo. A platéia inteira sabe o que eles vão fazer, mas todo mundo se diverte e ri diante das coisas óbvias que os artistas estão a fazer. Com a diferença que Woody Allen é suave na forma e agudo na caracterização: o homem é quase sempre imbecil, mas não perdeu a capacidade de rir de si mesmo. 

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