É certo que o mundo está muito mais complexo do que desejaríamos. Há algum tempo a globalização ganhou contornos ideológicos - seria o globalismo? - o nos coloca de cara com a realidade multifacetada das sociedades. Raças, línguas, costumes, cores, nível educacional, enfim, tudo e todos se misturam numa enorme geléia geral. A questão fundamental e que poucos estão dispostos a formular é: será que este novo mundo vai dar certo?
A distância entre classes sociais, dentro da maioria dos países, as relações multilaterais entre países ricos e pobres e os padrões culturais em interação nas diversas sociedades são apenas algumas das facetas que indicam as enormes dificuldades para se crer na globalização como um fenômeno passível do sucesso imaginado por uma gama de ideológos. Esta pode até ser inevitável, mas pode ser um imenso insucesso.
Um brasileiro de classe média tem o padrão de consumo de um trabalhador alemão. Nestes dias conheci um motorneiro de bonde suiço que faz turismo ao redor do mundo. Um motorista de ônibus de São Paulo certamente teria de fazer muitas contas para ajustar o seu orçamento aos seus planos de turismo global. A natureza deste tipo de diferença é barreira severa aos auspícios da globalização. Afinal, estaria o motorneiro suiço disposto a sofrer uma efetiva concorrência de seu colega motorista de São Paulo?
A multiculturalidade exige altas doses (e contínuas) de aceitação do outro como ele é. Esta alteridade pode ser um desejo ideológico da ONU, mas não consigo ver esta batendo na porta dos interesses mais imediatos dos cidadãos dos países ricos. A divisão internacional de trabalho estabelecida há pelo menos dois séculos criou uma vala enorme entre os homens ricos e pobres que é difícil imaginar eles batendo papo sobre suas diferenças, digamos, culturais. Ricos e pobres podem até usar telefones celulares e cartões de crédito com chip, sinais inequívocos da globalização. Daí a isto ser um sinal de que as coisas vão bem, vai uma distância amazônica...
Uso estas poucas linhas para levantar a suspeita de que há um grande engodo que está apenas no começo. Trata-se da globalização. Não estamos enfrentando este processo, analisando sobre o que fazer e pensando sobre suas variáveis. O que estamos mesmo a fazer é substimando os seus efeitos e levianamente confiando de que tudo isto vai dar certo. Pode não dar.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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