Durante a Guerra Fria o maior medo dos norte-americanos era dispensado a uma presumida vitória do comunismo sobre o style of life do país. Havia a certeza da corrida armamentista, acelerada sobremaneira nas décadas seguintes aos anos 50. Todavia, o temor militar era muito distante do argumento ideológico doméstico de que o comunismo era o “bicho papão” do modelo sócio-econômico de consumo dos EUA. Hoje, sentado na confortável cadeira do futuro, é possível afirmar que a invasão bárbara mais notória à sociedade americana é a imigração massiva, visível em qualquer centro urbano da América.
A democracia americana não é capaz de lidar com este fenômeno nos limites imaginados pelos founders fathers da nação. E muito menos está a sociedade habilitada para incorporar as multidões que invadem o país – outrora, no final do século XIX e início do XX, os imigrantes foram vistos como parte do progresso da América.
O filme O Visitante lida com este assunto de maneira dramática e é capaz de inverter os papéis com elegância e dramaticidade. Um professor universitário viúvo, entediado e indolente em suas tarefas acadêmicas tem de ir proferir uma palestra em New York. Lá vai pousar em seu próprio apartamento. É assim que descobre que lá vivem, sem o seu próprio conhecimento, um músico sírio casado com uma artesã africana, ambos imigrantes ilegais. A surpresa é que a reação do professor é serena: aceita aquela situação pacificamente e no decorrer da convivência percebe que aqueles dois personagens são capazes de resgatá-lo de seu próprio exílio interior.O risco compensou o retorno. Os bárbaros convertem-no à vida: ensinam-lhe a tocar música, a percorrer as ruas sem a indiferença em relação aos “outros” e a reacender o sabor dos prazeres mais genuínos aos viventes. A tragédia, porém, está a caminho. O sírio é preso por motivo banal e injusto e da prisão é deportado. Sem apelos e sem lei.Logo ele que resgatou um americano para a sua própria vida...
Este é um filme positivo de vez que evoca os melhores valores que tornam possível, do ponto de vista humano, a convivência com a realidade da imigração. De outro lado, mostra a incapacidade e a bestialidade do Estado e da Lei diante do fenômeno.
A interpretação de Robert Jenkins, indicado ao Oscar, é brilhante. Sua expressão dramática é não somente artística, mas política: é a cara da América assombrada pelos seus fantasmas. Fantasmas estes que não têm mais o revestimento ideológico dos tempos da Guerra Fria, mas que se corporificam nos transeuntes que batem à porta das casas dos yankees. Tudo muito explícito.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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