Fui assistir ao filme iraniano Procurando Elly (2009, Direção: Asghar Farhadi, com Golsfifteh Farahani, Shahab Hosseini e Taraneh Aidoosti) com duas expectativas. A primeira era a de verificar a qualidade da produção de um país oriental subdesenvolvido do ponto de vista econômico, mas com enorme tradição histórica e cultural. De outro lado, gostaria de ver o quão crítico pode ser um filme de um país submetido a um forte regime teocrático, muito embora existam eleições para o parlamento e para as lideranças do Estado e do Governo. Como se vê, estas seriam curiosidades "naturais" e, até mesmo, comuns para os que escolhem este tipo de filme para assistir.
Saí do cinema frustrado em relação às duas curiosidades prévias. A produção é relativamente pobre, não propriamente em função dos recursos disponíveis, mas pela ausência de uma correlação mais coerente entre a "estética" e o conteúdo dramático da estória. Isto retira a tensão necessária à atenção do distinto público, sobretudo em países com culturas tão diferentes. Em suma: a execução do filme não "prende" a audiência.
No que se refere ao desenvolvimento do roteiro até que há um ritmo intrigante ao espectador: um jovem iraniano que mora na Alemanha está em férias no seu país natal e vai passar um fim de semana com seus amigos (a maioria com família constituída e com filhos). Há uma convidada especial, Elly, que a certa altura desaparece, fato este que proporciona uma confusão significativa. Em meio a tudo isto, vão surgindo fatos relacionados com Elly que ora deixam os viajantes paralisados e ora há ação demais. O problema deste roteiro é que foi perdida uma excelente oportunidade para o exercício de certo espírito crítico em relação à condição da mulher e das famílias no Irã moderno. Claramente o filme não transpõe a estória de seu significante para seu significado. Ou seja, há um aborto de natureza ideológica e cultural que enterra todas as (maiores) possibilidades do filme. Até mesmo para confrontar culturas (no sentido positivo do termo).
Fiquei com uma sensação de frustração e inquietação. Houve censura em relação ao filme? Ou a direção voluntariamente reduziu a ambição crítica do roteiro?
O Irã é uma país inquieto como sabemos. A revolução islâmica de 1979 liderada pelo Aiatolá Khomeini ao longo das últimas três décadas mostrou-se insuficiente para retirar do país o legado das correntes ditatoriais deixadas pelo Xá Reza Pahlevi no período entre os anos 50 e o final dos 70. Derrubar velhas ordens parece bem mais fácil que construir as novas. O país hoje parece engessado pela tutela do poder teocrático islâmico e a supra-estrutura cultural parece ser a perfeita representação desta realidade. Ainda bem que não há saudades dos tempos do ditador anterior.
Para nossos olhos e ouvidos que assistiram a este filme neste país abaixo do Equador resta-nos a sensação de que devemos continuar Procurando Elly. Mesmo porque ela parece bem perdida em meio à realidade do "moderno" Irã.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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Um comentário:
Petros,
passei aqui para te deixar um beijo e desejar feliz ano novo, que todos seus desejos se realizem.
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