Assisti ontem (27/2) a uma interessante palestra patrocinada pela agência de comunicação CDN e proferida pelo competente professor Sílvio Meira, especialista e pesquisador na área de engenharia de software e internet. Sua reputação é internacional e a abrangência de seu trabalho transcende um universo que possa ser previamente estabelecido. A sensação de quem o escuta é que ele está como na teoria do big bang, ou seja, em contínua expansão.
Bem, de minha parte, não tenho competência para fazer uma reflexão mais apurada sobre o que seriam "os pensamentos" do referido professor sobre uma larga gama de assuntos relacionados com o mundo virtual (ou será real?). Assim sendo, me contenho apenas sobre um tema en passant abordado pelo professor. Trata-se sobre o significado do tempo no atual contexto onde tudo torna-se "instantâneo". Algo sobre o qual Santo Agostinho, Husserl e Bergson se debruçaram com redobrado esforço filosófico. Chegaram a algumas conclusões, mas se perderam em outras tantas.
Sou fascinado pelo tema do tempo, o qual considero uma daquelas abstrações humanas que nos abarcaram de tal forma que passamos a comemorar aniversários, datas, episódios históricos, etc. como se estes estivessem aprisionados pela régua que mensura esta abstração. O meu livro tem o título de Tempo Inaudito, uma abstração poética sobre outra abstração poética. Um tempo "que não se escuta".
O professor, em meio as palavras do jargão cibernético, trouxe à tona a idéia de Gilberto Freyre sobre o Tempo Tríbio, aquele onde confluem o passado, o presente e o futuro, onde o que é, o que virá e o que foi estão como em interação "dialética" (não sei se é a melhor palavra) numa fusão sobre a qual não sabemos ao certo a sua composição. Um tempo em três pessoas, o passado, o presente e o futuro.
Neste sentido filosófico, qual seria então para o professor Meira, o "tempo da rede". Seria o futuro trazido para o presente. Cada partícipe da net , ao aceitar o jogo virtual, seja no twitter, orkut, facebook, google, etc, está no presente antecipando o futuro.
Interessante este conceito. De fato, penso eu, esta "antecipação do futuro" é realizada de forma caótica, imponderada. Afinal, esta antecipação é feita "descontando-se as percepções do futuro" com base num conjunto de valores, conceitos, interesses, etc absolutamente atomizados e individuais. Com base neste conceito, um show do U2 a ocorrer em alguns meses, pode ser "antecipado" pelos indivíduos e pelo seu conjunto (em rede) e sobre este show pode se formar uma percepção que adquiriria "forma" quando ele de fato ocorrer. Ora, neste contexto o absoluto (o show real) é relativizado pelos participantes da rede (o show virtual ou percebido).
Não vou me delongar ainda mais neste complexo tema. Apenas registrar esta visão do professor Sílvio Meira. Não importa aqui se ela é "correta" ou "errada", afinal estamos a tratar de abstrações que se movem em ações individuais e coletivas (participativas). O que realmente importa é que no realismo fantástico da internet as equações daquilo que pensamos de forma consolidada (a verdade de cada um) estão se tornando instáveis. Uma instabilidade que talvez não consigamos conviver com ela senão por meio da coletividade da própria net. Um processo internetropofágico. (O termo é meu, nada a ver com o professor Meira).
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
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Um comentário:
gosto disso. tenho pensado tb no tempo direto e no ao vivo da televisão nas redes sociais.
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