Quando a II Guerra do Iraque começou sob a liderança de George W. Bush o apoio à invasão era quase unânime. A Nação democrática submeteu-se a um processo de obscuridade em meio à percepção popular vigente nos EUA de que era preciso responder com armas à guerra ao terror. Harry Truman, o presidente norte-americano que sucedeu Franklin D. Rooselvelt, tinha a concepção de que liderar uma nação implica em não se guiar pelas pesquisas de opinião, mas pelo que é certo, correto, ético e necessário. Ao líder cabe mostrar à Nação o caminho, mesmo que este não seja o mais popular.
A invasão do Iraque é uma das maiores fraudes históricas que se tem conhecimento. Nenhuma das justificativas utilizadas pelos EUA e seus aliados para invadir o país encontrou suporte na verdade dos fatos pós-invasão. Nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada e nem um grama de pó químico que pudesse ser utilizado em armas químicas foi descoberto. O líder de então seduziu o povo para o pior caminho.
A invasão do Iraque envergonha o mundo civilizado e, particularmente, mostra que a paranóia dos norte-americanos pode ser utilizada pelos políticos para conquistar os objetivos mais nojentos que se possa imaginar. Desde do início das operações militares em 20 de março de 2003, estima-se que mais de 650 mil iraquianos morreram em função das conseqüências da guerra e milhares de soldados norte-americanos deitaram mortos em solo iraquiano. Uma tragédia humana, política, social e econômica.
O filme Guerra ao Terror (The Hurt Locker, EUA, 2010, Direção de Kathryn Bigelow, com Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty e Guy Pearce) conta a rotina de um esquadrão do exército americano responsável pelo desarme de bombas plantadas pelos insurgentes iraquianos depois da invasão do país. Uma rotina marcada pelo risco da própria atividade e pelas possibilidades de morte que rodeiam os soldados por todos os lados, sejam os homens-bomba, sejam os atiradores postados sobre os edifícios de Bagdá. O filme consegue passar toda a tensão necessária para que aqueles que assistem possam estar no contexto daqueles heróis. Também é notável que o personagem principal do filme é um viciado no que faz. O desejo de transbordar em adrenalina é claro.
Todavia, o filme pára por aí. Na essência é um filme fraco, sem idéia conseqüente, sem brilho de interpretação e com uma direção bem tradicional no que diz respeito aquilo que se vê em outros filmes. O mais incrível de tudo, é que a diretora (e seu filme) Kathryn Bigelow é comemorada entre a tigrada de Hollywood como a grande sensação deste período pré-Oscar. Tudo que se fala do filme não é minimamente encontrado no próprio. Ao contrário: os espectadores ficam ao longo do filme esperando o "próximo passo" do filme, aquele que não pode ser um outro desarme de bomba. O filme simplesmente não tem argumento. Nem roteiro. Poderia ser um documentário (ruim) sobre um certo esquadrão americano no Iraque. Até mesmo a participação de Ralph Fiennes no filme é uma completa farsa: não dura mais de dois minutos.
O sofrimento do Iraque e dos americanos nesta desastrada invasão de Bush Jr. é um poço de oportunidades para se construir roteiros criativos e inteligentes. Bigelow conseguiu fazer o pior. Talvez mereça melhor investigação essa onda de popularidade da diretora.
Guerra ao Terror é uma farsa tanto quanto a farsa de Bush, Blair e Cia. Ltda.
O mundo ainda espera uma retratação dos EUA após tudo que se viu (e não se viu). Talvez Truman e seus pensamentos "antiquados" sejam ótima inspiração para Hollywood redimir um pouco a memória dos mortos nesta guerra irracional.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
Não concordo nem um pouco com a sua crítica. Aliás, o que vc critica no filme é o grande mérito dele. Sim, parece um documentário. Não tem começo, nem fim, exatamente como a vida real que não encontrou justificativas para o início e a saída da enrascada iraquinana. Ele documenta um dia a dia inútil, pesado, sem razões para esperar o dia seguinte. São diálogos pobres como deve ser pobre a conversa dos pobres coitados que lá estão. O tal robozinho que abre o filme é um ícone do momento vivido: poderia ser ele a fazer o serviço, mas daí qual a razão de lá estar de um homem que "desarma bombas". Essa mão controlada na direção não é exatamente fácil. A participação de Ralph Fiennes ser mínima é outra sacada do filme. Ele é apenas um detalhe, apesar de ser uma estrela. A "vida besta" do protagonista gera um "filme besta". Não existe moral da história, o que contraria quase todo filme candidato a Oscar. Uma das últimas cenas, em que ele, no supermercado, diante de tantas alternativas de cereal, fica em dúvida, triste quase, diante de escolhas tão banais a que um homem cuja decisão entre o fio verde e o vermelho que pode significar vida e morte tem que fazer em seu "trabalho" é espetacular. Apenas relembrando, após a cena, ele volta ao campo de batalha. Lá, ele vive. Fora de lá, ele sobrevive. O que parece ser um nada (o filme) é a retratação fiel (triste, portanto) do nada que é a ocupação americana no Iraque, do nada que é o País que sobrou dos escombros.
Átila Francucci
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