quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Lobisomem Desperta Lobos

O filme "O Lobisomem" (The Wolf Man, EUA, 2010, direção de Joe Johnston, com Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, Hugo Weaving) é daqueles que diverte na medida certa e, da mesma forma, deixa um friozinho de medo sem que isto seja perturbador do sono de mais tarde - pelo menos para os que têm sono tranqüilo. É um filme "correto" se me permitem o uso desta palavra tão pouco pronunciada quando queremos elogiar.
A produção, os efeitos especiais e o cenário são cuidadosamente articulados em favor do roteiro. Não há nenhuma pretensão estilística ou ideológica neste filme. Como sempre Benício Del Toro e Anthony Hopkins cumprem com primor os seus papéis, mesmo que não haja brilho em tais interpretações. Os outros atores são o que são de fato: coadjuvantes. É isto que é necessário ao filme, nada além disto.
Se há algo que possa ser despertado neste filme são os nossos medos (especialmente os infantis e juvenis) em relação a esta lenda. De fato, desde a antiguidade esta história é contada. A começar pela vingança de Zeus contra Licaão que serviu a carne de Árcade ao deus dos deuses gregos. Resultado: Zeus, na sua costumeira irritação, o transformou em lobo. (O termo "lobisomem" é vulgar, o termo científico é licantropo que vem do Rei Licaão).
Da Grécia este mito se espalhou por muitos agrupamentos sociais, sobretudo entre os povos eslavos, nórdicos e na Península Ibérica. Por aqui também pousou: no Brasil o lobo sai a meia-noite e quem não for batizado pode se dar mal.
Tenho para mim, que o lobo é uma figura mítica e que se entrelaça com perfeição no nosso (in)consciente. O seu caráter predador e algumas vezes solitário instiga a imaginação e boas doses de desejos contidos. Daí surge o rol de termos, tais como, "a idade do lobo", "a hora do lobo", "o lobo mau" e por aí vai. O nossos desejos negativos de vingança estão associados à exposição das "tripas" de nossos adversários e inimigos. O lobo é aquele que dilacera com rapidez a suas vítimas que logo têm espalhados os seus órgãos mais profundos. A vingança está associada a exposição mais letal do inimigo.
Por último, ainda há o uivo. No filme, as uivadas do Lobisomem não tem por objetivo a atração de nenhuma fêmea - há algo de regozijo da besta diante da lua cheia e depois de cumpridos os seus objetivos mortais. Convenhamos: o uivo para nós desperta algo bem mais profundo e inexplicável. O medo que sentimos vem lá de dentro. Nada mais inspirador para a formação das lendas explícitas e interiores. É como se ouve nas últimas falas do filme: "não sabemos onde termina o homem e começa a besta"...
No filme estrelado por Del Toro e Hopkins é bom ver a estória ser contada. Todavia, é muito bom sair do cinema. Mesmo que o filme valha a pena de ser visto.

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