segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Glória de Mandela Num Filme Regular

Nelson Mandela foi um dos cinco grandes da política no século XX. Refiro-me aos personagens que contribuíram para um mundo melhor a partir da atividade política. Além de Mandela, eu incluiria nesta lista Winston Churchill, Franklin Roosevelt, João Paulo II e Charles De Gaulle. Como se vê, não estão excluídos os fascínoras que influenciaram decisivamente a política ao longo do século passado, mas cuja herança é trágica. De Hitler a Mao, passando por Stalin.
Mandela ficou vinte e sete anos preso (1962-1990) em função de suas atividades políticas (e paramilitares) no Conselho Nacional Africano (CNA). Da prisão emergiram suas melhores idéias e propostas para que o movimento político que liderava pudesse prosperar na luta contra o apartheid, regime institucionalizado pela minoria branca da África do Sul para se manter no poder e evitar um governo de maioria negra.
Depois de muita luta, em 1990 Madela foi solto e entre 1994 e 1999 tornou-se presidente da África do Sul democraticamente eleito. Neste período, construiu uma política de reconciliação nacional na qual a minoria branca não foi massacrada conforme ocorreu em outros movimentos libertários africanos. Mandela soube ter sensibilidade política para evitar o caos econômico que poderia surgir a partir da saída dos capitais detidos pela minoria branca. Escolheu a civilização em meio à barbárie. Controlou com rara sabedoria e com grandes dificuldades os radicais do CNA que queriam reverter o apartheid, desta feita contra os brancos.
O Nelson Mandela de Invictus (EUA, 2010, Direção de Clint Eastwood, com Morgan Freeman e Matt Damon) preserva com fidelidade a imagem conciliadora do estadista sul-africano. O seu apoio ao time nacional de rugby, um ícone da minoria branca, é o símbolo (bem escolhido)  pelos roteiristas Anthony Peckham e John Carlin para falar da face pacifista do ex-guerrilheiro Nelson Mandela. Tudo no filme é "politicamente correto" a ponto de as dificuldades de Mandela no início de seu governo permanecerem numa espécie de limbo. O que ocorre é que em nenhum momento estas dificuldades emergem com a força dramática necessária para expressar o cenário daqueles dias. O que fica sugerido ao longo do filme é que Clint Eastwood escolheu a saída fácil das cenas épicas em troca de algo mais sólido do ponto de vista histórico e dramático. O diretor teve a sorte de ter ao seu lado Morgan Freeman, um ator de muito recursos, mas que fica reduzido a caracterização mais óbvia de Mandela: sua voz e senso de humor em meio à aguda percepção política. Já Matt Damon, este fica comprimido ao papel de um típico capitão de time de futebol americano. Culpa das escolhas do diretor, diga-se.
Quem assiste a Invictus, contudo, não se precisa se preocupar: o filme conquista corações com as suas cenas bem filmadas e com a perspectiva heróica de Mandela. A sua biografia, se minimamente conhecida por quem vê o personagem, contribuiu para tirar da memória uma certa ausência de história no roteiro. Filmar pode ser um inferno ou um purgatório. Nunca é um paraíso onde tudo parece perfeito. Em Invictus, Eastwood claramente se apressou em escolher um caminho mais rápido para chegar ao paraíso, mesmo que este não exista quando o assunto é cinema. 

Um comentário:

Vivi disse...

Essa semana assisti Invictus e achei bem "mais ou menos". Clint Eastwood já fez coisa melhor. Tudo bem que a idéia do filme era mostrar como Nelson Mandela usou o esporte, no caso o rugby, como ferramenta política para unir a África do Sul dividida pelo apartheid. Só que pra mim teve muita cena de joguinho de rugby, com o Mandela torcendo, pra pouca cena do Mandela fazendo política.