Na psicologia o processo de identificação consiste, definido de forma singela, no processo pelos indivíduos para moldar a si mesmo à luz do outro. Este processo tem relação direta com a construção da personalidade, da consciência de si mesmo a partir do outro. Sobretudo Freud e Lacan estudaram o fenômeno da identificação e suas teorias sobre o tema são numerosas e de incrível conseqüência para os seus respectivos pensamentos.
No Brasil, o tema da identidade pode estar relacionado às mais diversas variantes. Contenho-me a apenas uma delas. A dificuldade de nos identificarmos com certas realidades absolutamente visíveis e que são parte integrante e interferente no nosso cotidiano. Vejamos.
O Brasil é um dos países mais violentos do globo. A criminalidade brasileira atingiu patamares que permitem que numa festa social as pessoas possam discorrer longamente sobre os casos nos quais estas foram vítimas de assaltos, furtos, assédios e outras violências. Todavia, quando tratamos do tema à luz de nossa brasilidade nos vemos proclamando que o "Brasil é um país pacífico". Muitas vezes nos atemos às imagens televisivas das guerras dos "outros" e afirmamos categoricamente que "graças à Deus isto não ocorre por aqui". Apesar dos números brasileiros de homicídios fazerem do Iraque um acanhado "competidor".
O Brasil também é aquele país no qual não há partidos e nem políticos de direita. Quase todos os homens públicos brasileiros se dizem de centro e centro-esquerda, seja lá o que isto signifique. Nunca vi ninguém a afirmar que "é de direita".
Também sempre questionamos a frieza dos "estrangeiros". Todavia, são poucos os que se comovem com os pedintes das ruas e as crianças abandonadas. É relativamente comum a recomendação para que estes "trabalhem" como se isto fosse algo ao alcance desta maioria desprovida de bens e virtudes profissionais. Mas, os "frios" são os outros.
Muito se fala sobre igualdade por estes lados, mas o Brasil é um país no qual os elevadores são cuidadosamente reservados para "nós" e "eles". Uma vala muito superior ao próprio fosso do elevador.
O Brasil é um país que viveu uma ditadura militar de 20 anos, mas poucos chamam os ditadores de ditadores. Preferem chamar de "presidentes" os milicos de plantão que literalmente comandaram o país no período pós-64. Tem até juristas, tais como Miguel Reale, que colaboraram com a ditadura com suas penas jurídicas, mas que muitos consideram como liberais.
A sorte de tudo isto que é o Brasil é o país do futebol. Isto é mesmo. O antropólogo Roberto DaMatta dizia que "futebol é a única coisa que une o país". Afinal, ninguém deixa de se importar com o "ludopédio" nacional, mesmo que não gosta. Se não se importar um bocadinho deixa de ser brasileiro. É a grande identidade nacional.
Todavia, exceto o futebol, acho que a ausência de identidade com fatos objetivos, factuais e históricos pode ser um traço de identidade nacional. Ou seja, a falta de identidade pode ser a identidade. Com a palavra todas as ciências que podem estudar este fenômeno brasileiro.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
Ainda bem que temos o futebol! Gozado como em alguns casos existe uma diferença tao grande entre o que pensamos que somos, gostariamos de ser e o que realmente somos. Ótimo texto!
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