Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, Espanha, 2009, com Penélope Cruz, Lluís Homar, Ángela Molina, Carmen Machi, Blanca Portillo, José Luis Gómez) é o novo filme de Pedro Almodóvar. Trata-se de uma metalinguagem cinematográfica de alta envergadura. Em verdade, Almovódar é um dos últimos autores de cinema que faz reflexões relevantes sobre a condição do homem e da sociedade por meio de sua câmara. Neste caso, a sua lente percorre com elegância e, ao mesmo tempo, arrojo uma visão particular sobre o cinema. Almodóvar não opta nem pelo rompimento das estruturas da construção de uma filme como Godard em 1963 com "O Desprezo" e nem pela exaltação das situações proporcionadas pela execução de um filme como em "A Noite Americana" de François Truffaut em 1973. Ao contrário. Em Godard, o mito de Homero, autor da Odisséia, é questionado a partir da ruptura entre o Diretor e o Produtor: sobrou para o roteirista. Em "A Noite Americana", Truffault apela para o engraçado e para as barreiras a serem ultrapassadas para se fazer filmes: não há mitificação, mas desconstrução.
Em Abraços Partidos, quase tudo que ocorre sob o olhar de Almodóvar é pretexto para falar de cinema. O trio amoroso, formado pelos personagens de Penélope Cruz (em boa forma, mas com um desempenho discreto), Lluis Homar e José Luis Gómez é o gomo necessário para se criar uma estória dramática que calça o enredo metalinguístico pretendido pelo diretor espanhol. Tudo a partir das relações entre a amante (Penélope) de um empresário poderoso (Gómez) que se torna o produtor do filme de um diretor (Homar) que se envolve com atriz principal que é a própria, a amante do empresário. Ora, nada muito inédito. Todavia, todos os espaços do filme são preenchidos pelo próprio cinema: a direção de arte marcante e impecável, as cenas externas que lembram os vazios da Nouvelle Vague, as cenas de sexo improváveis, o filho "desconhecido" do diretor, o filho homossexual do produtor que está a fazer um "documentário" e o acidente que mata a protagonista do filme e cega o diretor - há algo de psicanalítico em tudo isto.
Almodóvar neste filme está em excepcional forma. Constrói um enredo marcante, na linha de "Fale com Ela" (2002), "Volver" (2006) e "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988). Há um ingrediente adicional: a capacidade de Almodóvar de conversar com o seu público para dizer-lhe algo sem se preocupar com o que possam pensar ou responder. Uma coragem difícil de encontrar na correção política da cena do cinema mundial. Mesmo entre aqueles cineastas que acham que estão na vanguarda.
Eis um belo filme para se ver. De preferência depois das dez da noite e poder na madrugada ir a um destes restaurantes boêmios e discutir Almodóvar, como ele próprio gostaria que fosse.
domingo, 6 de dezembro de 2009
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