segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"Justiça sem Limites" Põe a América no Banco dos Réus

Boston foi berço da Revolução Americana e de onde saíram idéias que marcaram o desenvolvimento político, social e econômico da maior nação do mundo. Além destes marcos históricos de peso, é lá a sede da série de TV Justiça sem Limites (Boston Legal, com James Spader,William Shatner e Candice Bergen, produzido por David E. Kelley).
A América se tornou império há pouco mais de 50 anos. Há pelo menos dois séculos, muitos pensadores ainda pesquisam e tentam entender o fundamento-mor do extraordinário desenvolvimento dos EUA. A Grande República do Leste nasceu e cresceu de maneira espetacular. Rejeitou o absolutismo e a monarquia, logo na sua independência política em 1776, bem como na Constituição de 4.400 palavras de 1787, e baseou-se no idealismo da Liberdade e Justiça para construir um modelo extraordinário de civilização e crescimento. A República nunca sucumbiu a nenhum atentado que colocasse as suas sólidas instituições sob qualquer jugo que contrariasse os princípios constitucionais. Suas crises políticas, sociais e econômicas nunca retiraram do povo americano os ideais nacionais. Num país complexo que absorveu imigrantes de todas as partes do mundo e que teve na escravidão o mais importante marco contra a civilização pós-1789.
Apesar desta história bela e marcante não são poucas as contradições daquela sociedade. A América ainda é o mais desigual país de primeiro mundo, o menos universal e o símbolo de um individualismo que vai além dos direitos civis e resvalou para excesso de consumo e apreço excessivo pelos bens materiais. Nem se fale de sua dificuldade para exercer o seu papel imperial no mundo. É difícil para a América sair de suas raízes provincianas.
Justiça sem Limites é uma série que examina com enorme humor estas contradições da sociedade norte-americana. Os cases nos tribunais nada mais são que um contundente exame do espírito da América. Muito além da reflexão de Max Weber no seu livro clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904).
Pelas bancas forenses de Justiça sem Limites desfilam personagens que ilustram as glórias e as mazelas da sociedade americana. Pouco importa quem ganha e quem perde. Os personagens do escritório de advocacia Crane, Poole & Schmidt, bem como os seus clientes são amostras que compõem a alma (sadia e doente) da América. De forma crítica e, muitas vezes bizarras, advogados e clientes são a face visível, mas não totalmente compreendida, dos próprios expectadores norte-americanos. A sexualidade que oscila entre a perversão e o puritanismo, o apreço ao uso da armas de fogo, as causas milionárias (e muitas vezes absurdas), a obesidade mórbida, o consumismo exagerado, a contradição entre a ética e a lei, o poder do dinheiro e, assim por diante, -  tudo está nos capítulos de Justiça Sem Limites. Aparentemente, a América ri – já são cinco temporadas! Resta saber se a crítica lhes causa assombração sobre o que é a sociedade americana. Para o bem e, infelizmente, para o mal.

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