Documentário é uma construção cinematográfica excepcionalmente difícil de ser realizada. Reunir dados, fatos, depoimentos e roteirizá-los é tarefa exigente. O resultado final tem grau de previsibilidade diminuída. Mais que um filme de ficção na medida em que não é possível "criar fatos". "Cidadão Boilesen" de Chaim Litewsky é um excepcional documentário. Está em cartaz nas principais capitais do país. Narra a trajetória de Henning Boilesen, presidente do Grupo Ultra ao final da década dos 60 e início dos 70. Ele foi o empreendedor da "Operação Bandeirantes (OBAN)", responsável pela perseguição dos militantes da luta armada da esquerda brasileira. Esta operação era financiada pelo dinheiro de grupos privados brasileiros e multinacionais e suportou o DOI-CODI, seção do Exército Brasileiro que cuidava da "defesa interna" e protagonizou inúmeras seções de tortura e de operações que resultaram na morte desde pessoas inocentes até militantes armados. Ele próprio, Boilesen, tinha enorme prazer em participar das sessões de tortura. Sua crueldade custou-lhe a própria vida: grupos armados o assassinaram em 1971 nos Jardins em São Paulo. A reconstituição do momento da operação que "justiçou" Boilesen é, a meu ver, o ponto alto do filme. Retrata cruamente o momento histórico do auge da ditadura.
Boilesen é apenas a feição visível daqueles tempos e é mostrado na tela de forma equilibrada tanto na verificação dos fatos de sua vida quanto na contextualização histórica e psicossocial.
Há depoimentos de próceres da ditatura, tais quais o ex-governador Paulo Egydio Martins (que defende Boilesen com ardor) e o patético ex-secretário de segurança de São Paulo Erasmo Dias que ilustram bem que aqueles tempos duros criaram um ambiente maniqueísta e marcado pela crueldade.
Uma curiosidade ficou no ar: quem foram os empresários que financiaram a OBAN de Boilesen? Quem deu dinheiro para as operações de tortura? Aposto que há muitos deles por aí, bem como suas prósperas empresas...
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
ainda não foi divulgado a fundo essa perversa relação de parte do empresariado nacional com os militares que fizeram a repressão no período da última ditadura brasileira, nos anos 60-70-80.
da mesma forma como nem todos os militares foram repressores, a grande maioria dos empresários que defendia a livre iniciativa se sujeitou aos métodos fascitas de fazer política no período. Mesmo assim há personagens, principalmente no sistema bancário nacional,que jogou pesadas verbas na conta corrente dos repressores. Vamos divulgá-los?
Renato Ganhito
Postar um comentário